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Sônia Pavão: a guardiã do conhecimento tradicional Guarani e Kaiowá na universidade federal de Dourados.

No coração do estado do Mato Grosso do Sul, em uma reserva indígena conhecida como Tapyi Kora, a indígena Sônia Pavão vive em sintonia com a natureza. Em meio à mata no entorno de sua casa, Sônia encontra tudo o que precisa para tratar os males do corpo e do espírito. Para ela, a floresta é a sua farmácia, onde as plantas do cerrado são utilizadas em suas formas medicinais tradicionais.

A trajetória de Sônia é marcada por superação e determinação. Órfã aos 4 anos de idade, após perder seus pais de forma trágica, ela encontrou no conhecimento tradicional dos guaranis (nhandevas e kaiowás) do Mato Grosso do Sul sua fonte de inspiração. Com anos de aprendizado acumulado, a indígena não se limitou apenas às tradições, mas decidiu expandir seus horizontes acadêmicos.

Graduada em ciências da natureza pela Faculdade Intercultural Indígena (Faind) da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), Sônia decidiu unir seus conhecimentos tradicionais com a pesquisa acadêmica, resultando em um mestrado que abordou os conhecimentos dos guaranis e kaiowás como fontes de autonomia, sustentabilidade e resistência.

A inserção de Sônia no ambiente acadêmico representa uma troca de conhecimentos enriquecedora. No campus da UFGD, é possível perceber a peculiaridade da instituição de ensino, que abriga a Faind, a Faculdade Intercultural Indígena. Com cursos voltados para os povos originários brasileiros, a universidade busca incentivar a formação de professores indígenas e promover a interculturalidade.

A presença de alunos e pesquisadores indígenas na UFGD promove uma reflexão sobre a relação entre a ciência acadêmica e outros saberes tradicionais. A adaptação das instalações e do calendário acadêmico da Faind à realidade dos estudantes, que muitas vezes residem em aldeias distantes, mostra o compromisso da universidade em promover uma educação inclusiva e respeitosa com a diversidade cultural.

Além disso, a UFGD já conquista reconhecimento internacional, como no caso de três alunos indígenas de doutorado selecionados para um projeto de intercâmbio de seis meses na França. Essa oportunidade não apenas proporciona experiências únicas aos estudantes, mas também amplia a visibilidade e a legitimidade dos povos indígenas e suas reivindicações.

A jornada de Sônia Pavão, marcada pela fusão entre a tradição e a academia, simboliza o poder do conhecimento ancestral e sua relevância para a construção de uma sociedade mais inclusiva e respeitosa com a diversidade. A união entre os saberes indígenas e a ciência acadêmica é o caminho para o fortalecimento e reconhecimento das culturas originárias em um mundo cada vez mais globalizado.

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