População negra é a mais impactada por mortes relacionadas ao álcool no Brasil, revela pesquisa do Centro CISA.

No Brasil, a população negra é a mais afetada pelas mortes relacionadas ao consumo de álcool, conforme apontado pela publicação recente “Álcool e a Saúde dos Brasileiros: Panorama 2024”, divulgada pelo Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa) nesta sexta-feira. De acordo com o presidente do Cisa, Arthur Guerra, as disparidades no impacto do uso nocivo de álcool entre brancos, pretos e pardos, especialmente em mulheres, são alarmantes.

Os dados revelam que, em 2022, a população negra registrou uma taxa de 10,4 mortes atribuíveis ao álcool por 100 mil habitantes, enquanto os brancos apresentaram uma taxa de 7,9, sinalizando uma diferença de aproximadamente 30%. Entre as mulheres, essa discrepância é ainda mais acentuada, com taxas de 2,2 e 3,2 entre pretas e pardas, respectivamente, comparadas a 1,4 entre as brancas.

Essa desigualdade é atribuída à histórica desigualdade racial no país, que impacta diretamente o acesso a tratamentos adequados. A socióloga e coordenadora do Cisa, Mariana Thibes, ressalta que pessoas pretas enfrentam maiores vulnerabilidades sociais devido ao racismo e à pobreza, dificultando o acesso a serviços de saúde de qualidade essenciais para o tratamento de transtornos causados pelo uso de álcool.

Além disso, a discriminação racial é apontada como um fator de estresse que contribui para problemas físicos, emocionais e comportamentos de risco associados ao consumo de álcool. No entanto, ressalta-se que não significa que os negros bebam mais abusivamente, mas sim que enfrentam dificuldades maiores para obter tratamento adequado quando necessário.

Diante desse contexto preocupante, é crucial intensificar a conscientização sobre os impactos do abuso de álcool na saúde da população preta e parda, bem como promover a inclusão e diversidade nos serviços de saúde mental para garantir um acesso equitativo a cuidados de qualidade.

A pandemia interrompeu a queda da taxa de óbitos atribuíveis ao álcool, que atingiu 33 mortes por 100 mil habitantes em 2022. Dessas mortes, dezesseis estados apresentam taxas superiores à média nacional, sendo o Paraná, Espírito Santo e Piauí os mais afetados.

O tratamento do alcoolismo é crucial, mas a dificuldade de aceitação por parte da população negra e branca representa uma grande barreira. É essencial desfazer estigmas relacionados ao alcoolismo, que muitas vezes são vistos como falhas de caráter, e garantir acesso a tratamentos de qualidade para combater essa doença crônica. Os serviços de saúde devem ser sensíveis às questões culturais e ampliar o acesso a tratamentos gratuitos para lidar com esse desafio de forma eficaz.

O Cisa destaca a importância do apoio familiar e profissional durante o tratamento, enfatizando que recaídas são comuns e fazem parte do processo de recuperação. A instituição utiliza metodologias e fontes confiáveis, como IBGE, Datasus e Sistema de Informação sobre Mortalidade, para analisar os óbitos atribuíveis ao álcool por cor de pele/raça.

Como uma das principais referências no Brasil sobre o tema, o Cisa tem contribuído significativamente para conscientizar, prevenir e reduzir o uso prejudicial de álcool desde sua fundação em 2004. Como uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip), o centro busca avançar o conhecimento sobre o assunto, divulgando pesquisas e dados científicos, produzindo materiais educativos e desenvolvendo projetos para abordar o impacto do álcool na saúde da população brasileira.

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