
Uma reflexão sobre as eleições nos EUA
Venho para escutar, desconstruir clichês, tentar entender a complexidade de uma sociedade que passa, mais uma vez, por uma verdadeira batalha por sua alma. Uma potência sobre a qual paira a pergunta incômoda sobre sua decadência ou reinvenção.
Em novembro, um país rachado vai às urnas, sob a sombra de um complexo industrial da desinformação. Uma eleição marcada, entre outras coisas, por uma campanha que promete uma “deportação em massa” de pessoas que nunca foram de outra nação.
Não será a primeira vez que o país se olhará no espelho e terá de fazer perguntas difíceis. A história —e seus ecos— nos revelam a profundidade da opressão e desigualdade que mulheres, imigrantes, indígenas e afroamericanos escravizados viveram, antes de poderem ser considerados cidadãos.
Tampouco será a primeira vez que um grupo lutará por manter o que acredita ser o “American Way of Life”.
Em 1948, por exemplo, o governador segregacionista da Carolina do Sul, Strom Thurmond, estava concorrendo à Presidência por um partido que lutava contra os direitos civis. Num discurso, ele alertou que o projeto de Harry Truman para proibir o linchamento e a discriminação na contratação de empregados “minaria o modo de vida americano”. Foi ovacionado.
A história americana revela como profundas divisões, rancores e protestos moldaram esse país. Um Destino Manifesto que justificou um massacre de povos inteiros. Um país que, por séculos, construiu sua “grandeza” sob um apartheid explícito, transformado hoje em implícito.