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Silvio Santos: O visionário por trás do sucesso nacional da música sertaneja que ficou oculto por anos





A morte de Silvio Santos gerou enorme repercussão nas mídias nacionais e muitas análises. No entanto, uma faceta de Silvio permaneceu encoberta, mesmo uma semana após sua morte. Silvio Santos é um dos principais responsáveis pelo sucesso nacional da música sertaneja.

Fundado em 1981, o SBT sempre teve uma pegada popularesca. Na mesma época, um gênero musical crescia debaixo das entranhas da indústria cultural. Também de matriz paulista, a música sertaneja foi conquistando cada vez mais público na década de 1980, superando os horários matutinos e vespertinos nos quais era exclusivamente tocada nas rádios.

Diferente do que prega a memória coletiva, não foi a Globo a responsável pelo sucesso nacional da música sertaneja. Estes louros são do paulistano SBT, uma TV então nascente e sem tradição, que se associou à música sertaneja catalisando o sucesso comercial de ambos.

Diferentemente da regional TVS, antecessora do SBT, o canal de Silvio nos anos 1980 era transmitido nacionalmente via satélite. Era preciso repensar culturalmente o Brasil que se formava no pós-ditadura e a música sertaneja foi a estética escolhida para fazer par com o popular-massivo das “colegas de trabalho” de Silvio.

Em 1986, Silvio criou o programa Chitãozinho e Xororó no SBT, no qual os irmãos paranaenses cantavam sucessos e recebiam convidados como Leandro e Leonardo, Trio Parada Dura, João Mineiro & Marciano, Valderi e Mizael, Teodoro & Sampaio, Gilberto e Gilmar e Alan e Aladin, entre outros. O programa durou até 1988 e ajudou a nacionalizar a música.

Chitãozinho e Xororó estavam conscientes dos poderes da mediação televisiva. No especial de fim de ano do SBT de 1988, eles fizeram questão de mostrar que buscavam uma mudança no cenário cultural. A exemplo do que acontece nos Estados Unidos, onde a country music é tocada diariamente nas rádios, em qualquer horário, lutamos para que a música sertaneja seja executada em igualdade de condições com a chamada MPB e o rock. A gente já tinha muito nome no Sul, no centro do país, mas éramos pouco conhecidos no Norte e Nordeste. Com o programa no SBT em rede nacional, nosso trabalho, a música sertaneja como um todo, passou a ser mais massificado. Isso foi muito bom para nós e para a música sertaneja.

Em 1987, além de Chitãozinho e Xororó, João Mineiro e Marciano e Milionário e José Rico ganharam horários na grade do SBT. Aproveitando a onda favorável aos artistas do sertão, até Rolando Boldrin foi para o SBT, onde apresentou o Empório Brasil de 1989 a 1990, de linha estética mais caipira.

O sucesso do programa de Chitãozinho e Xororó foi tamanho que estimulou Silvio a patrocinar o disco “Sertanejo 86”, uma coletânea daquelas novas músicas que ganhavam o público nacional. O disco foi produzido pelo SBT em parceria com a gravadora Copacabana, especializada no gênero. Ao perceberem o sucesso da empreitada, mais dois discos foram lançados, “Sertanejo 88” e “Sertanejo 89”, ambos também coletâneas dos sucessos anuais.

Além desses programas Silvio criou o Musicamp, comandado por Wagner Montes, Christina Rocha e Sonia Lima, que durou de 1987 a 1990. O Musicamp foi um programa produzido em parceria com Chantecler-Continental, em resposta à preferência inicial da rede de Silvio Santos pelos artistas da Copacabana. Nos dois discos lançados pelo selo Musicamp só havia artistas da Chantecler-Continental, entre eles Chrystian e Ralf, Milionário e José Rico, Matogrosso e Mathias, Duduca e Dalvan e Roberta Miranda.

Fazendo valer a relação histórica do SBT com a música sertaneja, o apresentador Gugu Liberato criou o programa Sabadão Sertanejo em 1991 na emissora de Silvio Santos. Na época Gugu apresentava com grande sucesso o Viva a Noite, que misturava musicais e gincanas de artistas. Inicialmente o Sabadão Sertanejo era um musical de curta duração, que buscava trazer audiência para o Viva a Noite. Mas o sucesso foi tanto que acabou destronando o programa original.

A nova atração ia ao ar às 22h, e tornou-se a principal janela para a música sertaneja na televisão brasileira. Diferentemente do Viva a Noite, o Sabadão Sertanejo era simplesmente um musical. As duplas eram chamadas ao palco e cantavam uma ou duas canções, recebiam discos comemorativos das vendagens e respondiam breves perguntas do apresentador.

O Sabadão Sertanejo atingiu logo o posto de segundo programa mais visto da emissora, apenas perdendo para o Topa tudo por dinheiro, que era apresentado pelo patrão Silvio Santos. A boa audiência era proporcional às críticas das grandes mídias. Em 21 de julho de 1991, a Folha criticou a moda sertaneja televisiva em reportagem de título: “Onda neojeca expõe face retrógrada do país”.

Além de promover shows por todo o Brasil, a empresa artística de Gugu Liberato, a Promoart, juntou-se à gravadora Continental-Chantecler para a produção de três coletâneas sertanejas. O primeiro LP Sabadão Sertanejo foi lançado em 1991; o volume dois saiu no ano seguinte, e a terceira edição, em 1994.

Silvio era tão próximo dos sertanejos que acabou por se tornar parente de um deles. Sua filha Silvia Abravanel casou-se com Gustavo Moura, cantor do gênero.

A memória de Silvio Santos foi louvada pelos artistas sertanejos quando de sua morte. O festival de Barretos deste ano homenageou o apresentador com uma imagem de seu icônico microfone e a palavra “eterno” projetados no Monumento ao Peão, um dos principais pontos da maior festa de rodeio do país. A dupla Edson e Hudson também celebrou o apresentador em seu show em Barretos e Leonardo cantou “Não aprendi dizer adeus” em homenagem a Silvio em um show em São Paulo.

Silvio Santos, Gugu e o SBT trouxeram os artistas do interior para o primeiro plano nacional. Através de uma relação de mútuos granhos, a música sertaneja consolidou-se nacionalmente formatada pela cultura do espetáculo televisivo. E o SBT tornou-se a segunda emissora do país.

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