
Plebiscito no Chile: uma batalha simbólica
A população do Chile volta às urnas neste domingo (17) para tentar, mais uma vez, enterrar a mais simbólica herança da ditadura de Augusto Pinochet —a Constituição promulgada em 1980, quando o país estava sob o violento regime. Ironicamente, porém, especialistas dizem que o texto sob escrutínio consolida o projeto liberal da carta vigente.
Após reprovar uma proposta constituinte em setembro de 2022, quando 62% da população rechaçou o documento gestado pela esquerda, o país mergulhou em uma incerteza na qual permanece. Até o mês passado, nenhum dos levantamentos realizados pelos principais institutos de pesquisa chilenos indicava a aprovação do texto, embora essa opção estivesse em tendência de alta.
Havia ainda uma porcentagem significativa de indecisos em um plebiscito cuja presença é obrigatória —na última semana de novembro, 16% das pessoas não sabiam qual seria o seu voto, de acordo com levantamento da empresa de pesquisas chilena Cadem. Não é possível saber se o crescimento do grupo simpático ao texto continuou desde então, já que a divulgação de pesquisas nos quinze dias anteriores ao pleito é vetada.
Para comparação, o texto colocado à prova no ano passado foi redigido por uma maioria de legisladores independentes de esquerda, com paridade de gênero e representação dos povos originários. Se tivesse sido aprovado, transformaria o Chile em um Estado plurinacional, garantiria o direito ao aborto e consideraria a água um bem “inapropriável”.
Da mesma forma, promoverá a cooperação internacional para alcançar estes objetivos. A reprovação do projeto neste domingo seria uma vitória do presidente do Chile, o esquerdista Gabriel Boric, ainda que o governo não esteja influenciando diretamente o trabalho constitucional. Na cena pública do país desde os protestos estudantis de 2011, Boric foi um dos responsáveis por pressionar o então líder de direita Sebastián Piñera a dar início ao processo constitucional em 2019. Se for aprovado, é mais um obstáculo de um presidente que tem uma reprovação de mais de 60%, segundo a Cadem.