
Irmandade da Boa Morte: Tradições e Devoção Emocionam o Recôncavo Baiano
Na cidade histórica às margens do rio Paraguaçu, as ruas se enchem de cores e devoção durante os cinco dias de festividades em honra à Assunção de Maria. A Irmandade da Boa Morte, com quase dois séculos de existência, reúne figuras importantes como Dona Maria da Conceição de Jesus, de 108 anos, e Dona Lindaura Paz dos Santos, de 87 anos, que dedicaram suas vidas à mantença não só das tradições católicas, mas também do Candomblé e das práticas afro-baianas.
Cinco dias de ritos relembram a morte e assunção de Maria
Durante os cinco dias de festividades, as irmãs da Boa Morte demonstram sua fé e resistência através de diversos rituais que mesclam tradições católicas e africanas. A devoção à Maria se mistura com o samba de roda, a distribuição de caruru e outras práticas típicas da cultura afro-baiana, mostrando a riqueza e diversidade religiosa do povo do Recôncavo.
A celebração começa com as devotas vestindo branco, simbolizando o velório de Nossa Senhora, seguido por momentos de luto e de louvor. Nas procissões e missas, as irmãs se destacam com suas vestimentas tradicionais, revelando uma tradição estética que resistiu ao longo dos séculos, mesmo em tempos de opressão colonial.
No terceiro dia, a glória de Maria é celebrada com festa e alegria, marcada por missas solenes, procissões e muito samba de roda. As ruas se enchem de cores e música, enquanto as irmãs homenageiam a Nossa Senhora com panos vermelhos e joias douradas, em um espetáculo de fé e devoção.
Entre as irmãs, uma doutora do samba
Entre as integrantes da irmandade, destaca-se Dona Dalva Damiana de Freitas, de 96 anos, uma verdadeira doutora em samba. Reconhecida por sua contribuição à preservação da cultura negra do Recôncavo, Dona Dalva é cantora e compositora do renomado grupo Samba de Roda Suerdieck, fundado em 1961.
Com quase três décadas de dedicação à irmandade e às tradições culturais locais, Dona Dalva representa a resistência e a devoção do povo baiano. Sua história e sua arte são reconhecidas não só dentro da comunidade, mas também pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, que lhe conferiu o título de doutora honoris causa em 2012.
Nos rituais, nas danças e nas festas, a Irmandade da Boa Morte emociona e inspira, mostrando que a fé e a devoção podem superar todas as barreiras. Em tempos de incerteza, as senhoras da Boa Morte nos lembram da importância da tradição, da resistência e, acima de tudo, do amor.