
Análise da Campanha Eleitoral nos EUA
Na terça-feira passada (6), durante o discurso de estreia de Tim Walz como companheiro de chapa da candidata democrata à Presidência dos Estados Unidos, Kamala Harris, ele agradeceu por “trazer de volta a alegria”.
Foi só então que percebi plenamente o quanto a alegria tem gerado a eletricidade por trás da candidatura presidencial de Kamala. Não por causa de alguma posição política específica que a atual vice-presidente tenha tomado —ela não está articulando propostas que diferem substancialmente das do presidente, Joe Biden. No entanto, ela está se permitindo ser o recipiente para a energia progressista reprimida.
Eu subestimei o quanto os eleitores democratas haviam sofrido danos emocionais nos últimos três anos e meio —não por causa da administração Biden, mas pelas intermináveis guerras culturais— e como esses danos se solidificaram em um tipo de depressão eleitoral.
O movimento Black Lives Matter atingiu seu pico e depois diminuiu, enquanto a reação cultural a ele (e ao chamado “movimento woke”) se tornou uma indústria em crescimento. A legislação federal de direitos de voto estagnou e muitos estados correram para promulgar novas restrições aos eleitores.
Enquanto ainda estava na corrida de 2024, a campanha de Biden apresentou aos democratas a opção de continuar protegendo a democracia americana. Essa era uma descrição precisa dos riscos, mas também uma mensagem negativa que dependia de uma atitude defensiva e do medo.
De uma só vez, porém, quando Biden se retirou e os democratas se uniram em torno de Kamala, uma nova possibilidade nasceu. Com ela, eleitores receosos de outro mandato do ex-presidente Donald Trump puderam trocar o medo pelo otimismo. Os democratas agora tinham algo pelo que lutar tanto quanto tinham contra o que lutar.
No ano passado, quando Biden se preparava para anunciar sua candidatura à reeleição, Terrance Woodbury, sócio-fundador da consultoria HIT Strategies, cuja pesquisa inclui a sondagem do sentimento dos eleitores negros, me disse algo que ficou comigo —os eleitores negros jovens (os homens negros jovens em particular) são menos receptivos a mensagens políticas de medo e perda e mais receptivos a mensagens de ganho e empoderamento.
Eleger mais uma pessoa negra para a Presidência, que também seria, é claro, a primeira mulher e a primeira presidente asiático-americana, seria uma oportunidade para demonstrar ganho e empoderamento, não apenas para os eleitores negros, mas para toda a coalizão democrata —para todo o país. É uma chance de fortalecer uma crença progressista fundamental: que a diversidade beneficia a sociedade como um todo.
Os republicanos criticaram Kamala como uma candidata de DEI (acrônimo para diversidade, equidade e inclusão), jogando com a sigla para diversidade, equidade e inclusão, usada no meio corporativo, para insinuar que ela não conquistou sua posição.
Mas, em grande parte, os democratas estão entusiasmados com Kamala porque ela é altamente qualificada e, por acaso, também é uma mulher não branca. Eles reconhecem que ela representa tudo o que há de bom em DEI, que não se trata da concessão de privilégios, mas de seu desmantelamento.
E foram as mulheres negras que lideraram a carga inicial que gerou tanto entusiasmo por Kamala; se você conquista as mulheres negras, conquista a alma do Partido Democrata. Os políticos democratas modernos tentam aproveitar esse poder há décadas: John F. Kennedy, por exemplo, organizou o “Kennedy Tea”, festas de chá para mulheres negras, durante sua campanha de reeleição para o Senado.
O entusiasmo é contagiante. Agora há entusiasmo em toda a base eleitoral democrata, e isso só é reforçado com Walz como candidato a vice-presidente do partido.
Ele é o epítome de um guerreiro feliz; ele é a figura paterna, o soldado, o treinador e o homem comum franco. Ele oferece a mesma coisa que Biden ofereceu a Barack Obama e Tim Kaine ofereceu a Hillary Clinton: ele é um homem branco tiozão, cabelos grisalhos e tudo, pronto para copilotar uma mudança de poder demográfico.
Esta eleição permanecerá uma batalha real, mas os democratas descobriram que a amargura não é necessária. A corrida foi reformulada como um concurso entre o alto astral de Kamala e a visão sombria de Trump.