
O poder da informação nos bastidores da política: a importância das fontes
A segunda regra tácita era a da proporcionalidade. A relevância da informação recebida era consequência da informação que eu, como muitos outros jornalistas, aportava à conversação. Quanto mais inédita e verificada, mais valiosa. Delfim sabia avaliar a qualidade da informação como ninguém e devolver a dose equivalente de novidade e contexto ao interlocutor.
Entre 1991 e 1996, editei a coluna Painel, na Folha de S.Paulo. Para conseguir preencher o espaço de 21 notas com informações supostamente inéditas sobre política – diariamente, 365 dias por ano -, a equipe da coluna conversava com algumas dezenas de pessoas para fechar cada edição. Era insano, mas metódico.
Numa época pré-internet, sem WhatsApp nem celular, em que notícias só chegavam impressas, pelo rádio ou pelo Jornal Nacional, o telefone fixo era a ferramenta de trabalho do repórter que trabalhava no jornalismo diário de política.
Isso implicava conhecer não apenas os números das pessoas certas (que chamávamos de “fontes”), mas os nomes, gostos e datas de aniversário de assessores e secretárias que poderiam servir de canal de acesso ou barreira intransponível a quem se buscava.
No Painel, tínhamos três categorias de fontes fixas: diárias, semanais e ocasionais. As diárias, com quem um de nós conversava todo santo dia, eram as mais importantes: governantes da ocasião, assessores, burocratas de primeiro e segundo escalão, parlamentares. Mas só havia uma fonte com quem eu falava duas vezes por dia: Delfim. Porque ele havia se tornado, havia décadas, a maior central de informações da política brasileira.
Central valiosa porque se comunicava com todos os lados, cores e sabores. Delfim trocava figurinhas com a direita, com a esquerda, com repórteres, empresários, lobistas. Sempre com muita discrição. Contava o milagre, mas jamais o santo.