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Descoberta da “cola” dos núcleos atômicos completa cem anos; feito de brasileiro revoluciona estudo de partículas subatômicas.







Reportagem sobre César Lattes

Descobertas de César Lattes revolucionaram a física de partículas

Prótons e nêutrons formam o núcleo atômico, como quase todo mundo sabe. Mas o que permite que vários prótons, todos com carga positiva e, portanto, repulsivos uns aos outros, se juntem para formar átomos? E por que esses agregados simplesmente não explodem e desmancham numa fração de segundo?

Coube ao brasileiro César Lattes, cujo nascimento completa cem anos na próxima quinta-feira, descobrir a “cola” que supera a repulsão eletromagnética e, com isso, permite a existência da matéria como a conhecemos.

O achado ocorreu em 1947, 12 anos após o pesquisador japonês Hideki Yukawa formular uma teoria de como uma partícula, até então jamais observada, poderia ser emitida e absorvida por prótons e nêutrons e com isso criar uma ligação de curto alcance entre eles que seria muito mais poderosa que a repulsão dos prótons, capaz de dar estabilidade aos núcleos atômicos.

Yukawa calculou que a massa dessa hipotética partícula seria maior que a dos elétrons, mas menor que a dos prótons. Por ter essa massa intermediária, a partícula acabou recebendo o nome de “méson”.

Não tardou para que dois cientistas encontrassem o que parecia ser o tal. Estudando chuveiros de raios cósmicos, Carl Anderson e Seth Neddermeyer encontraram em 1937 uma candidata, mas que acabou se revelando ser a partícula que hoje chamamos de múon, uma versão mais pesada do elétron.

Para descobri-la, a capacidade de análise das partículas dos raios cósmicos teria de melhorar. Foi então que César Lattes entrou em cena.

Com apenas 23 anos, Lattes ganhou fama internacional

Durante seu doutoramento na Universidade de Bristol, no Reino Unido, nos anos 1940, Lattes desenvolveu uma técnica revolucionária que aumentou a sensibilidade na detecção de partículas. Expondo as emulsões fotográficas em altitudes elevadas, Lattes conseguiu identificar novas partículas como o múon e o píon.

Às portas do zoológico subnuclear

A descoberta dos mésons inaugurou uma nova era no estudo de partículas subatômicas. Aplicando suas técnicas em aceleradores de partículas, Lattes detectou píons produzidos artificialmente, o que impulsionou o estudo das partículas elementares em laboratório.

O trabalho de Lattes e seus colegas contribuiu significativamente para o desenvolvimento do modelo padrão da física de partículas, que abrange todas as formas conhecidas de matéria e energia.

Quando Lattes foi indicado ao Nobel de Física

  • 1949
    Físico Walter Hill (1903-1987) e Físico James H. Bartlett (1904 -2000) – Laureado: Hideki Yukawa
  • 1951
    Físico Gleb Vassielievich Wataghin (1899-1986) – Laureados: John Douglas Cockcroft e Ernest Thomas Sinton Walton
  • 1952
    Físico Marcel Schein (1902-1960) e Químico Leopold Ruzicka (1887-1976) – Laureados: Felix Bloch e Edward Mills Purcell
  • 1953
    Ruzicka – Laureado: Frits Zernike
  • 1954
    Ruzicka – Laureados: Max Born e Walther Bothe

As descobertas de César Lattes marcaram um marco na história da física de partículas, contribuindo de forma significativa para o avanço do conhecimento sobre a matéria e a energia em escala subatômica.


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