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Propaganda do governo substitui atleta negra por computador em foto histórica das Olimpíadas, gerando críticas e debate sobre racismo.






Artigo Jornalístico

No caso da questão racial, não se passa impunemente, por termos sido o último país abolir a escravidão mercantil, e por termos sido o último país que mais recebeu população africana escravizada. Essas são marcas da nossa sociabilidade e um governo precisa fazer mais do que pedir desculpas. É preciso fazer reparações.

Ou seja: cometi esse engano, o que eu vou colocar no lugar? O que eu vou oferecer no lugar? Como é que eu vou mostrar pra população que há um ensinamento para tirar do erro? Não basta só [dizer] ‘errei’. Ou seja, o que ofereço daqui para frente? Acho que foi um grande engano essa propaganda, imenso, mais do que um erro. Lilia Schwarcz

A fotografia original registrou um pódio histórico nas olimpíadas, que reuniu três ginastas negras, e nossa atleta, Rebeca, recebeu reverência de Simone Biles e Jordan Chiles. No post, a conta do Instagram do Ministério fez a alteração na imagem para divulgar a distribuição de computadores para inclusão.

A Rebeca é retirada para entrar um computador. Inclusão digital é boa, mas o que é esse nosso complexo de ‘Zé Carioca’,em que nós mantemos as duas atletas norte-americanas que estavam reverenciando a atleta brasileira, e retiramos a Rebeca?

Eu leio imagens, eu leio pelos detalhes. Eu acho que nós vivemos um racismo estrutural, porque ele estrutura nossas percepções. Lilia Schwarcz

Lilia: racismo estrutura percepções, branquitude precisa sair da neutralidade

Lilia também enfatizou a importância de as pessoas brancas deixarem de se enxergar como neutras na questão racial, um dos temas abordados em seu novo livro “Imagens da branquitude: a presença da ausência”.

No caso da questão racial levantada pela antropóloga Lilia Schwarcz, é importante refletirmos sobre as consequências históricas e atuais do racismo estrutural no Brasil. Ao mencionar que o país foi o último a abolir a escravidão mercantil e o que mais recebeu população africana escravizada, Schwarcz ressalta a necessidade de reparações por parte do governo, indo além de simples pedidos de desculpas.

A análise feita por Schwarcz também é aplicada a um recente episódio envolvendo a atleta brasileira Rebeca e a alteração de uma fotografia que exaltava sua conquista e reverência de outras ginastas negras, substituindo-a pela imagem de computadores sendo distribuídos para inclusão digital. A antropóloga questionou o motivo de retirar a atleta brasileira da foto, destacando o racismo estrutural presente na sociedade.

A postura neutra da branquitude em relação à questão racial também foi abordada por Schwarcz, que defende a importância de as pessoas brancas reconhecerem sua responsabilidade e não se enxergarem como neutras nesse debate. Seu novo livro, “Imagens da branquitude: a presença da ausência”, oferece uma reflexão aprofundada sobre esse tema.

O alerta feito por Lilia Schwarcz nos convida a repensar nossa postura diante das questões raciais, reconhecendo a necessidade de ações efetivas para combater o racismo estrutural e promover a igualdade e inclusão em nossa sociedade. A reflexão proposta pela antropóloga é essencial para avançarmos em direção a uma sociedade mais justa e equitativa para todos os cidadãos.

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