
Delgatti compareceu ao Congresso um dia após admitir à Polícia Federal que recebeu R$ 40 mil da deputada Carla Zambelli para invadir qualquer sistema do Judiciário. De acordo com a defesa do hacker, ele apresentou comprovantes de que recebeu R$ 14 mil em depósitos bancários e R$ 26 mil em dinheiro vivo, vindos de assessores da deputada.
Esse depoimento de Delgatti é muito esperado pela base aliada, que acredita que ele pode revelar a essência da estratégia golpista. Por outro lado, a oposição argumenta que sua convocação é apenas uma cortina de fumaça para evitar a responsabilização do governo nos atos de depredação das sedes dos três Poderes em Brasília.
Segundo o deputado Rogério Correia, vice-líder do governo na Câmara, a estratégia é demonstrar, preferencialmente com Delgatti depoimento, qual foi o papel dele na tentativa de Bolsonaro, juntamente com Zambelli, de interferir no processo eleitoral. Já o líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues, afirmou que Delgatti é a testemunha chave para explicar o processo de contestação e invasão das urnas eletrônicas, sendo o testemunho da raiz do processo golpista.
Randolfe acredita que tudo começou com o questionamento do resultado das urnas em 8 de janeiro de 2023 e passou pelos atos de 12 de dezembro, com a invasão da sede da PF, e pelo atentado terrorista fracassado no aeroporto de Brasília, em 24 de dezembro. Ele argumenta que a campanha contra o sistema eleitoral incentivou bolsonaristas a irem à Praça dos Três Poderes em janeiro com o intuito de intervir nas Forças Armadas e prender ministros do STF.
Walter Delgatti é acusado de invadir o sistema do Conselho Nacional de Justiça a pedido de Zambelli para inserir um mandado de prisão fraudulento contra Alexandre de Moraes e acessar o celular do ministro do STF em busca de informações que pudessem comprometê-lo. Além disso, o hacker teve um encontro com o presidente Bolsonaro em agosto de 2022 para discutir a inviolabilidade das urnas.
Para Randolfe, é importante saber tudo o que Delgatti viu e acompanhou, reafirmando tudo que foi dito anteriormente nos depoimentos à Polícia Federal, para que a CPMI possa concluir o caso. O senador considera o hacker um indivíduo competente e brilhante na invasão de contas de autoridades, como ficou evidenciado nas informações obtidas da Vaza Jato.
Quando questionado sobre a convocação de Zambelli, Randolfe afirmou que seria perda de tempo e que esse caso precisa ser tratado pelo Conselho de Ética da Câmara.
Por outro lado, na visão do deputado Maurício Marcon, membro da CPMI e da oposição, a convocação de Delgatti serve apenas para desviar o foco da comissão. Ele acredita que a vinda do hacker é uma estratégia diversionista para ofuscar depoentes de maior importância, como o comandante da Força Nacional e pessoas que foram presas injustamente durante ações policiais. Marcon considera a audiência com Delgatti como vazia e inútil.
Ele ainda argumenta que a comissão requisitou imagens do Ministério da Justiça referentes ao dia 8 de janeiro, mas apenas duas câmeras foram entregues por Flávio Dino, ministro da Justiça. O deputado acredita que essas imagens podem comprovar que Dino estava no ministério antes do horário que ele declarou.