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Objetos desaparecidos há mais de 40 anos de igrejas históricas são identificados em leilão e recuperados através de operações conjuntas.




Recuperação de objetos sacros perdidos há mais de 40 anos

Recuperação de objetos sacros perdidos há mais de 40 anos

Durante o mês de julho, objetos desaparecidos há mais de 40 anos da Igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores, no centro do Rio de Janeiro, e da Catedral de Belém, no Pará, foram identificados em um leilão de antiguidades e recuperados em operações conjuntas do Iphan e da Polícia Federal após denúncia do provedor da Irmandade dos Mercadores, Cláudio André de Castro. Ambas as investigações começaram em outubro do ano passado, com a apreensão das peças pela Polícia no Escritório de Arte Dagmar Saboya, em Copacabana. Entretanto, mesmo assim centenas de objetos tombados desaparecidos continuam sendo procurados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, segundo o Cadastro nacional de Bens Culturais Procurados.

Contando com essas peças recuperadas recentemente – que incluem também um trio de Sacras da Igreja da Ordem Terceira do Carmo, um riquíssimo templo que está interditado na rua Primeiro de Março após anos de descaso de uma irmandade que é sua proprietária – a Superintendência do Iphan no Rio de Janeiro diz que está em processo de recuperação de cerca de 20 objetos extraviados. Já o banco de dados do Iphan conta 329 objetos ‘perdidos’ só no Estado do Rio. Nem tudo é contabilizado: a denúncia das quase 200 peças sumidas da igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores, por exemplo, não está toda contabilizada.

Segundo uma fonte do DIÁRIO, é sabido que as peças recentemente apreendidas pertenciam ao espólio de um famoso empresário que foi um dos maiores colecionadores de arte sacra no país, e cujos herdeiros, após sua morte, brigaram na justiça pela posse da imensa coleção. O empresário falecido, aficcionado por arte sacra, foi autor de livros sobre este tipo de arte. Segundo as informações obtidas pela reportagem sob garantia de anonimato, um famoso antiquário carioca intermediava a “venda” (que é ilegal) de objetos de irmandades católicas dispostas a se desfazer de peças como Prataria Sacra, Santos e Móveis em Madeira ao empresário, cuja coleção, quando de seu falecimento, ultrapassaria as 2000 peças. O fato teria ocorrido no início dos anos 80.

O furto e o sumiço de arte Sacra no Rio de Janeiro é tão grave que uma consagrada obra trata exclusivamente do assunto. De autoria de Raphael Hallack Fabrino, a monografia “Os Furtos de Obras de Arte Sacra em Igrejas Tombadas do Rio de Janeiro (1957 -1995)” é uma leitura de arrepiar os cabelos. E tem um capítulo inteiro dedicado aos sumiços da Ordem Terceira do Carmo, que chegou a ter um Museu de Arte Sacra num imóvel hoje que é praticamente uma ruína na rua do Carmo, junto ao número 38.

A fiscalização dos leilões de arte também é responsabilidade do Iphan. No Brasil, existe o Cadastro Nacional de Negociantes de Obras de Arte e Antiguidades para maior controle sobre esse mercado. Todos os leilões devem ser notificados ao Iphan antes de ocorrer e, teoricamente, as peças são avaliadas antes de cada um destes eventos de arte. Porém, são centenas de leilões e leiloeiros, contabilizando milhares de lotes mensalmente apregoados. A Polícia Federal auxilia a investigação de objetos suspeitos, e seus peritos analisam as peças apreendidas, como ocorreu no caso que ficou célebre, da Igrejinha dos Mercadores.

Em caso de identificação de algum bem cultural desaparecido, as denúncias podem ser realizadas virtualmente pela Consulta Pública de Bens Culturais Procurados do Iphan. A ação da Igreja dos Mercadores prova que é possível recuperar as peças. Agora resta saber se a Polícia e o Iphan vão correr atrás das outras peças que, certamente, estavam na posse do mesmo colecionador falecido.


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