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Expansão desordenada e ciclos amazônicos: a realidade de Manaus vista de dentro para fora, o retrato de uma cidade em desassossego.




Reportagem sobre os desafios urbanos em Manaus

A luta diária nas margens dos igarapés em Manaus

Os ciclos da amazônia são um martírio para Waldomiro Coelho, 59, e Rosilene Gouvim, 57, que moram no beco São Vicente, um dos vários becos que entrecortam uma extensa área de favelas em Manaus.

O casal vive com o filho mais novo numa casa de madeira suspensa, erguida a cinco metros do chão, a poucos metros de um igarapé que se conecta com o rio Negro, a veia central da maior cidade amazônica.

Na cheia, os alagamentos são frequentes, e a altura da água —que arrasta lixo e esgoto em seu percurso— está marcada nas ripas que constituem a parede da casa. Na seca, Waldomiro e Rosilene ficam ilhados. O igarapé na frente de casa praticamente desaparece e o barco que o vendedor de peixes usa para trabalhar precisa ficar ancorado a uma longa distância.

A expansão de favelas nas franjas do bairro Educandos, onde está o beco São Vicente, se repete em outros pontos de Manaus, com avanços de moradias por áreas verdes e por igarapés. A capital de 2 milhões de moradores vive uma expansão desordenada, sem planejamento.

Vista de cima, Manaus é uma mancha urbana encravada na floresta. A cidade, porém, está de costas para a amazônia. Expande-se sem harmonia com igarapés e cursos d’água, o bioma está desconectado da rotina urbana, os ciclos de secas e cheias viram transtornos rotineiros em distintos pontos da cidade.

Na disputa pela Prefeitura de Manaus, neste ano eleitoral, no entanto, o debate político ainda passa à margem de questões sobre a relação da cidade com a floresta, ocupação de igarapés e áreas verdes, expansão de favelas, déficit habitacional e falta de qualidade de vida nos espaços ocupados.

Os extremos climáticos, por sua vez, vêm se intensificando ao longo dos anos, e os ciclos naturais da amazônia se convertem em um constante desassossego, num lugar onde a ocupação desordenada já impede o mínimo de qualidade de vida.

Propostas dos pré-candidatos sobre ocupação e meio ambiente:

David Almeida (Avante), prefeito que tentará reeleição: O prefeito diz ter iniciado a maior política habitacional de Manaus, com 17 mil famílias beneficiadas até o fim de 2024. Segundo a assessoria do candidato, está em curso um bairro planejado, com 3.500 lotes. A gestão implantou uma guarda ambiental para “prevenir a indústria das invasões e degradação do meio ambiente”.

Amon Mandel (Cidadania), deputado federal: O deputado propõe soluções integradas, por entender que a expansão das favelas e a ocupação de igarapés têm como razão a falta de programas habitacionais. O pré-candidato diz que, caso seja eleito, usará instrumentos previstos no Estatuto da Cidade, como criação de conselhos e comitês com representantes da sociedade civil, empresariado e esferas de governo.

Marcelo Ramos (PT), ex-deputado federal: O ex-deputado afirma que o crescimento desordenado de Manaus é resultado da falta de uma política de habitação e que muitas pessoas vivem em habitações precárias e em áreas de risco.


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