
Kamala Harris: O Desafio da Eleição nos EUA
Pois bem: em 24 horas, Kamala obteve o apoio de todos os governadores democratas que se colocavam como postulantes; teve o nome endossado pelas lideranças do partido nas duas Casas do Congresso; conquistou o número necessário de delegados e arrecadou, sem pedir, aquela montanha formidável de dinheiro. No sistema brasileiro, talvez se estivesse diante de uma ascensão irresistível. Mas, por lá, o busílis é outro.
Numa contagem mais ampla, os Estados ditos “pêndulos”, nem democratas nem republicanos inamovíveis, seriam 12, somando 161 dos 538 votos do colégio eleitoral — logo, é preciso obter 270 apoios para vencer. Numa avaliação mais rigorosa, considera-se que são sete as unidades da federação que realmente definem a eleição, a saber: Wisconsin (10), Pensilvânia (19), Arizona (11), Michigan (15), Geórgia (16), Nevada (6) e Carolina do Norte (16).
Exceção feita a Maine (4) e Nebraska (5), que indicam delegados segundo a proporcionalidade, quem ganha num Estado leva todos os delegados. No pleito de 2020, Biden venceu Trump em diversos Estados importantes, como Wisconsin, Pensilvânia, Arizona, Michigan, Geórgia, Nevada, mas perdeu na Carolina do Norte.
Perceberam a distância ínfima? Querem ver como são as coisas? Em 2020, Biden obteve uma montanha de votos a mais (7.050.804) do que Trump. No Colégio Eleitoral, o placar pró-democrata foi de 306 a 232: uma diferença de 74. Os sete estados-pêndulo listados acima somam 92 cadeiras.
Por que faço essas observações? Vejam a vantagem mínima dos democratas em 2020, em termos percentuais, nos Estados listados. Em termos numéricos, ele obteve as 77 cadeiras em razão de uma vantagem, nesse grupo, de meros 288.167 votos. É visível que o modelo está estupidamente errado.
VOLTO A KAMALA
Os dois pontos percentuais que marcam a liderança de Kamala sobre Trump na pesquisa são importantes, sim, para indicar a mudança de ânimo. Até domingo à tarde, antes de Biden anunciar a desistência, a derrota era a única coisa certa para os democratas. Uma mudança e tanto! Mas reparem como o colégio pode distorcer a realidade. Em 2016, a democrata Hillary Clinton obteve 65.853.516 votos, contra 62.984.825 de Trump — uma dianteira nas urnas de 2.868.691 votos, mas ela ficou com 227 delegados no Colégio Eleitoral, e ele, com 304: 77 a mais.