
Paris se esforça, mas acessibilidade nas Paralimpíadas ainda é desafio
Na manhã desta segunda (2), este escriba, em momento não humilde que parece não ter fim (mas tem), ligou a TV e testemunhou a eufórica narração no canal que transmitia a competição de paratriatlo em Paris.
O entusiasmo era com o local Jules Ribstein, cuja história foi contada na transmissão. Ele já competia no triatlo antes de sofrer um acidente de moto e ter a perna amputada. Agora ele estava prestes a se tornar campeão paralímpico, para comoção da transmissão oficial.
“Vai, é agora, ele ganhou, oui, oui, oui”, ou algo assim, narraram emocionados. A transmissão corta para outro competidor, em outro ponto da prova, em vez de mostrar o francês, paratleta da casa, comemorando.
Estranho.
“Nos desculpem, falta uma volta ainda”. Ops.
No fim, para alegria geral, e de Ribstein, ele ficou mesmo com o ouro. Mais “oui, oui, oui” para ele, com louvor.
Assim como os exultantes narradores (às vezes, parece a Cazé TV, sem o suposto humor, mas recheado de euforia), Paris de modo geral está se esforçando com a Paralimpíada.
Mas nem tudo cheira a macaron.
Na chamada Olimpíada Cultural, por exemplo, foram muitas as exposições dedicadas ao movimento olímpico. O monumental Panthéon foi um dos poucos locais que fizeram uma mostra sobre a história e o desenvolvimento das Paralimpíadas; pequena, mas bem esclarecedora, por sinal.
Para chegar ao Panthéon, este escriba desceu na bela estação de metrô Cluny-La Sorbonne. Bela, mas não adaptada. Não havia escada rolante ou elevador para ajudar quem tivesse locomoção limitada.
Além do Panthéon, há exposições de imagens ilustrativas a céu aberto nas gares (as grandes estações de trem, interligadas ao metrô, que permitem cruzar a Europa, como gare du Nord ou gare de Lyon).
A organização das competições em Paris tem exaltado desde antes do início das Olimpíadas como a frota de ônibus está (quase) 100% adaptada e como os pontos de ônibus (estes, de responsabilidade da prefeitura) estão 100% acessíveis.
Mas o famoso e antigo metrô ficou por isso mesmo. Existem estações com escadas rolantes e elevadores, principalmente entre as mais novas, como as da linha 14, que agora chegam até o aeroporto de Orly. Mas elas são minoria.
Para chegar ao Stade de France, no entorno, também presenciei um cadeirante precisando usar uma cadeira motorizada e adaptada para subir uma escada com uns 20 degraus. “Não tem uma rampa para te ajudar?”, perguntei. “Não, mas está tudo bem”, respondeu o moço que, depois percebi, era voluntário. Mas não está “tudo bem”.
Ok, seria um tanto inocente e um tanto hipócrita achar que a cidade se resolveria no tópico acessibilidade só porque iria abrigar a competição. Historicamente, Olimpíadas e Paralimpíadas juntas são algo recente.
Em 1972, a alemã Heidelberg recebeu o evento paralímpico, enquanto Munique abrigou as Olimpíadas; em 76, Toronto nas Paralimpíadas; e a também canadense Montréal nas Olimpíadas. Em 80, a União Soviética só quis saber das Olimpíadas, em Moscou; os Jogos Paralímpicos foram para Arnhem, na Holanda.
Na verdade, só em 1984 o COI aprovou oficialmente o termo Jogos Paralímpicos. E, de 1988 para cá, eles acontecem do jeito que conhecemos, nas mesmas arenas e pouco depois das Olimpíadas.
Mas Paris anunciou um plano recente para aumentar a acessibilidade no metrô e oferecer mais escolas e práticas esportivas com acessibilidade. O esforço continua.