
O CASO DAS CARNES
A “proteína”, como costuma chamar a imprensa, não estava na cesta básica, contrariando, diga-se, a vontade de Lula, que defendia a sua inclusão, como deixou claro em entrevistas a rádios. Mas ele se vergou aos argumentos do ministro Fernando Haddad (Fazenda) e do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Estudos apontam que a isenção tem um impacto de 0,53 ponto na carga total de impostos. Assim, o mais sensato — e concordo com esta visão — seria fazer o “cashback” para os mais pobres.
Mas vocês sabem… A bancada ruralista tem poder, não é mesmo? O PL — aquele que votou para sabotar a reforma — já havia deixado claro que tinha um destaque, então, para incluir a carne na cesta básica. O relator do texto, deputado Reginaldo Lopes (PT-MG), decidiu, nos instantes finais da votação, incluir todas as proteínas animais da cesta — carne, peixes e queijos, além do sal. Todos os líderes concordaram, mas foi preciso fazer uma votação-relâmpago para formalizar a mudança, aprovada por 447 votos a 3, com duas abstenções.
Opa! Prestaram atenção? O texto da regulamentação da reforma foi aprovado por 336 votos; a inclusão da carne (e demais proteínas) na cesta básica — e, pois, com isenção de impostos — contou com 447 votos: 111 a mais! Com a devida vênia, isso expressa, a um só tempo, sabotagem, subserviência, falta de escrúpulos e mau-caratismo político. Por quê?
Ora, fica evidente que os valentes do PL, entre outros, que se opuseram à reforma sem ter motivos claros par isso — além da disposição de sabotar o governo — resolveram deixar claro a seus “brothers” do “ruralismo” que lá estão para garantir seus interesses. “Ora, Reinaldo, votar contra a inclusão das carnes na cesta básica é um mal em si?” Não. Diga-se de novo: o próprio Lula defendia a proposta. Mas notem: o sujeito que diz “não” à reforma e “sim” à isenção de impostos para um produto, sendo isso parte da própria reforma, bem…, esse cara, neste filme, está abaixo do cocô do cavalo do bandido. De resto, os que andaram produzindo valentias retóricas contra o texto só o fizeram porque sabiam que seria aprovado. Mistura à subserviência a covardia.
O deputado Filipe Barros (PL-PR), líder da oposição na Câmara, anunciou a orientação pela rejeição, assegurando que haverá elevação da carga tributária. Falso. Disse tratar-se de um estratagema do governo para aumentar a tributação. Falso também. As associações empresariais, por exemplo, sem exceção, aprovam a proposta.
De qualquer modo, tem-se aí uma medida do tamanho do bolsonarismo sabotador na Câmara. Se não chega a reunir os 142 — pode até haver um ou outro que têm lá razões próprias para se opor —, está por aí. A propósito: vejo que Pedro Lupion (PP-PR), o chefão da bancada ruralista, votou a favor. É um entusiasta da anistia a Bolsonaro. Vai ver está com saudade dos Planos Safra mirrados da gestão de seu ídolo.