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Juízes da Corte IDH ouvem relato de vítima de tortura durante ditadura no Brasil em audiência pública em San José.

Os juízes da Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH) tiveram a oportunidade de ouvir um relato emocionante de Denise Perez Crispim durante uma audiência pública dedicada a seu caso. Denise, uma vítima da ditadura civil-militar no Brasil, compartilhou o horror que viveu em 1970, quando grávida de seis meses, foi brutalmente torturada por agentes do regime.

Em um depoimento tocante, Denise descreveu as agressões e ameaças que sofreu, incluindo choques elétricos e a certeza de que seria assassinada. Ela relatou que as sessões de tortura ocorreram repetidamente, durante vários dias, até que entrou em trabalho de parto e deu à luz sua filha prematura, sem nenhum registro formal. Sua narrativa detalhada revelou a crueldade e desumanidade dos agentes do aparato repressivo estatal.

Ao ser questionada sobre o momento do parto, Denise revelou o medo constante de perder a vida e a incerteza sobre o destino de sua filha. Após o nascimento, foi liberada pelos agentes, mas logo em seguida foi condenada a 10 anos de prisão pela Justiça Militar, perdendo seus direitos políticos.

O testemunho de Denise é parte do processo do caso Collen Leite e Outros vs. Brasil, no qual o Estado brasileiro é acusado de não investigar as violações de direitos humanos praticadas contra o militante político Eduardo Collen Leite, conhecido como Bacuri, e sua esposa, Denise. Bacuri, considerado o preso político mais torturado pelo Exército, foi posteriormente executado enquanto estava sob custódia do Estado.

A Comissão Interamericana de Direitos Humanos denunciou a prisão arbitrária e a execução extrajudicial de Bacuri, exigindo que o Estado brasileiro investigue os fatos de maneira diligente. O caso de Denise e Bacuri representa mais uma oportunidade para que o Brasil seja condenado por violações dos Direitos Humanos durante o regime militar.

As decisões da Corte IDH apontam a incompatibilidade da Lei de Anistia de 1979 com a Convenção Americana de Direitos Humanos, considerando crimes contra a humanidade como tortura, execução e desaparecimento forçado como imprescritíveis. No entanto, a interpretação da Lei da Anistia ainda impede a responsabilização de agentes estatais, aguardando decisões judiciais pendentes.

A audiência no caso Collen Leite vs. Brasil ocorre em um momento crucial, após a reinstalação da Comissão Nacional de Mortos e Desaparecidos Políticos pelo presidente Lula. O país enfrenta um período de revisão e reflexão sobre o passado sombrio da ditadura, buscando justiça e reparação para as vítimas e suas famílias.

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