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O Marinheiro: Uma Imersão na Alma de Fernando Pessoa
O renomado diretor Elias Andreato, aos 69 anos, declarou recentemente: “Nunca fui tão feliz”. O motivo de tanta alegria é a peça “O Marinheiro”, escrita por Fernando Pessoa (1888-1935) e atualmente em cartaz sob sua direção. Em um reencontro com o escritor que marcou sua juventude, Andreato descreve a experiência como estar diante de um oceano intenso e assustador, mas ao mesmo tempo curioso e desejoso de se banhar nas águas do poeta.
A montagem, estrelada pelas talentosas atrizes Cristina Mutarelli, Michele Matalon e Muriel Matalo, acontece no acolhedor espaço do Atelier Cênico, localizado em Santa Cecília, região central de São Paulo. Com um público de no máximo 50 pessoas, o ambiente propicia uma proximidade física única com o palco, tornando a experiência ainda mais intensa.
No cenário, as protagonistas, três irmãs, manipulam uma imensa corda de marinheiro, simbolizando a vida, os sonhos e a complexidade dos seres humanos. Com 12 mil metros de corda ocupando todo o espaço cênico, a encenação cria um ambiente de marionetes, destacando a habilidade das atrizes em dar vida às personagens e suas tramas existenciais.
A peça, centrada no drama estático e na reflexão, foi escrita por Pessoa em 1913, às vésperas da 1ª Guerra Mundial, como uma forma de questionar o teatro tradicional. Segundo Andreato, as três mulheres representam os principais heterônimos do poeta, Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos, em um mergulho profundo na alma do escritor português.
O retorno da atriz Muriel Matalon aos palcos, após uma pausa, é um dos destaques da produção, que é dedicada à memória da atriz Myriam Muniz (1931-2004). Com uma iluminação marcante, que conduz a passagem das horas e os devaneios das personagens, “O Marinheiro” proporciona ao público uma imersão na poesia e na genialidade de Fernando Pessoa.