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Liberdade artística em xeque na Turquia: Censura, perseguição e resistência marcaram o cenário cultural sob Erdoğan.

Reportagem: Censura à Arte na Turquia

No humilde distrito de Sarıyer, em Istambul, surge uma melodia em espanhol de uma casinha simples, que os moradores locais não conseguem compreender. O músico Suat Kaya, acompanhado por amigos do Grup Yorum, encanta com sua pronúncia perfeita ao interpretar “Hasta Siempre”, uma canção cubana dedicada a Che Guevara.

Em entrevista realizada em dezembro passado, membros da banda relataram a situação atual: 12 dos 30 integrantes estão atualmente detidos, refletindo um cenário de repressão à produção artística na Turquia sob a liderança de Recep Tayyip Erdoğan.

A cena cultural turca enfrenta diversas formas de censura, com proibições em programas televisivos, sanções administrativas e até ameaças físicas e assédio policial a artistas. A plataforma Susma24 identificou 209 casos de repressão somente no último ano, evidenciando a intensificação da vigilância sobre a liberdade de expressão no país.

Lei e Ordem

A baixista do Grup Yorum, Seher Adıgüzel, relatou que durante uma invasão ao centro cultural da banda, a justificativa dos policiais era subjetiva e arbitrária, sem base jurídica clara. A simples crítica ao presidente Erdoğan nas redes sociais é suficiente para ser rotulado como terrorista, em um ambiente de repressão generalizada.

A ativista Alara Sert também ressaltou a crescente falta de previsibilidade legal no país, onde qualquer manifestação artística contrária ao discurso oficial pode resultar em perseguição e detenção. A pluralidade cultural na Turquia é constantemente cerceada, limitando a diversidade de expressões e visões divergentes.

O Inferno e os Outros

A cineasta Nejla Demirci viu seu documentário “O Decreto” ser alvo de intensa censura e pressão do governo turco. A obra, que aborda os impactos de uma tentativa de golpe no país, foi barrada em festivais locais e enfrentou oposição de diversos setores estatais e privados.

A despeito das dificuldades, artistas como Demirci e Seher Adıgüzel enfatizaram a importância de resistir às tentativas de silenciamento, mesmo diante de riscos e ameaças. A luta pela liberdade de expressão e pela diversidade cultural se mantém como um desafio constante na Turquia contemporânea.

Eu não vou embora

Apesar das adversidades, os artistas turcos entrevistados reiteraram seu compromisso em permanecer em seu país e continuar lutando por uma cena cultural diversa e plural. A resistência à censura e à repressão tornou-se uma marca indelével da comunidade artística local, em meio a um contexto de crescente autoritarismo e vigilância estatal.

A experiência dos artistas turcos reflete não apenas os desafios enfrentados no país, mas também ressalta a importância da solidariedade internacional em prol da liberdade artística e da diversidade cultural em todo o mundo.

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