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Líder quilombola é assassinado em emboscada: Raimundo Bertoldo Cearense deixa legado de luta e defesa da comunidade no Maranhão.




Artigo Jornalístico

Quilombola Raimundo Bertoldo: líder e defensor de sua comunidade

O telefone de Raimundo Bertoldo não parava, sempre tinha alguém ligando para pedir uma ajuda. O líder presidiu durante muitos anos a associação do Quilombo Santa Cruz, atuando na defesa da comunidade contra loteamentos ilegais e articulando projetos para melhorar a qualidade de vida de seu povo. E sempre ajudava com documentações, até para certificação de outros quilombos do Maranhão.

“Era um líder muito querido da comunidade. Sempre defendia os de dentro da comunidade e não apoiava esses moradores irregulares que vinham de fora para comprar terreno em nossas áreas”, afirma o filho Ronaldo Mota Cearense, 34, que perdeu as contas de quantas viagens o pai fez para buscar melhorias e regularizar atas de comunidades quilombolas.

Em seu quilombo, localizado em Capinzal do Norte (MA), foram muitos projetos implantados. Ele era o responsável por reunir a documentação das pessoas e auxiliar na execução. Este ano, garantiu o Minha Casa Minha Vida.

O líder também defendia a preservação das matas virgens, era contra o desmatamento e a caça de animais silvestres.

Raimundo Bertoldo Cearense nasceu em Caxias (MA), em 1955. Foi criado por pais adotivos, Antonio Bertoldo Cearense e Joana Teresinha de Jesus, junto aos seus dois filhos, em Coroatá (MA). Se dividia entre ajudar na roça pela manhã e ir para a escola à tarde.

Foi o trabalho que o fez chegar ao Quilombo Santa Cruz, onde se casou e morou o resto da vida. Foram quase 50 anos de relacionamento com Lenilsan, com quem teve oito filhos. Um morreu ainda recém-nascido e outros dois já adultos, um em 2016 e outro em 2023.

Ele se divertia com os filhos e vizinhos jogando bola na comunidade. “Meu pai era muito divertido, conversava muito e dava conselhos. Falava que a gente tinha que sempre respeitar um ao outro. Ensinou a sermos respeitosos e trabalhadores”, diz Ronaldo.

Um de seus braços era amputado. A causa foi um acidente de trabalho em 1972. Um incêndio atingiu a área da empresa onde ele estava e, ao correr carregando um botijão, um pedaço de árvore caiu sobre seu braço. Mesmo com levado ao hospital, não foi possível salvar o membro.

Raimundo trabalhou a vida toda, era lavrador e mantinha o costume de acordar muito cedo. Já aos 69 anos, ainda plantava na roça de feijão.

O líder quilombola foi assassinado em uma emboscada no dia 27 de maio de 2024, aos 69 anos, conforme denúncia da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais e Quilombolas (Conaq).

Deixa a esposa Lenilsa, 67, os filhos Reinaldo, Raimunda, Renato, Romário e Ronaldo, além de 11 netos e 2 bisnetos.

Contato: coluna.obituario@grupofolha.com.br

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