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Uma visão interna sobre a política boliviana
No meio de um parque em Buenos Aires, o ex-vice-presidente da Bolívia Álvaro García Linera revelou em uma conversa a sua decisão de nunca ter se candidatado ao cargo principal do país. Para ele, a liderança de Evo Morales era fundamental, e a sua função era de ser o braço direito do presidente, garantindo a continuidade e os valores de sua administração.
Evo Morales, por sua vez, enfrentou questões constitucionais em seus mandatos, ultrapassando os limites estabelecidos e provocando uma revolta social em 2019 que culminou em sua renúncia. Diante desse cenário, a pergunta inevitável surgiu: por que García Linera nunca se candidatou à Presidência?
A resposta foi contundente. García Linera destacou a importância de ter o primeiro presidente indígena na Bolívia, um país onde a maioria da população é indígena. Para ele, era essencial garantir que líderes indígenas ocupassem o mesmo espaço que líderes brancos, que historicamente dominaram a política boliviana.
O racismo contra os povos indígenas sempre foi uma questão central na sociedade boliviana, e García Linera acreditava que era fundamental manter a liderança indígena para promover a inclusão e combater a desigualdade. Evo Morales conseguiu avanços significativos nesse sentido, elevando indígenas a cargos de destaque na sociedade.
No entanto, a tentativa de golpe de Estado contra Morales evidenciou a resistência de alguns setores da sociedade em relação a essa transformação. O ex-general do Exército Juan José Zúñiga Macías representou essa resistência, tentando intimidar o processo de inclusão e renovação liderado pelo MAS.
Nomes como Andrónico Rodríguez surgem como possíveis sucessores de Morales, trazendo consigo a renovação do movimento e a continuidade do projeto de inclusão social. Rodríguez, um líder cocaleiro jovem, tem sido apontado como um possível sucessor pelo ex-presidente, mas o momento ainda não parece ser o ideal para essa transição.
Diante de um cenário político complexo e marcado por tensões, a Bolívia enfrenta o desafio de manter vivo o legado de inclusão e transformação iniciado pelo governo de Evo Morales e de garantir que a diversidade étnica e cultural do país seja respeitada e representada em todas as esferas de poder.