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Advogado acostumado a defender alvos da PF agora representa empresa em caso de fraude bilionária nas Lojas Americanas




Artigo sobre a Operação Disclosure

O renomado advogado Celso Vilardi, conhecido por defender alvos de grandes operações da Polícia Federal, viu-se em uma situação inusitada na quinta-feira (27).

Com a Operação Disclosure em andamento, que cumpria mandados contra 14 ex-executivos e detinha dois ex-funcionários das Lojas Americanas, Vilardi estava agora do outro lado, atuando como advogado do Conselho de Administração e da própria empresa envolvida no rombo de mais de R$ 25 bilhões. Os maiores acionistas, Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles, não são alvos da investigação.

Em uma entrevista à Folha na sexta-feira (28), Vilardi comentou sobre a operação, as conclusões da investigação interna e a complexidade da fraude que, segundo ele, entrará para a história.

“A investigação policial e do Ministério Público Federal mostrou algo do qual já estava convencido: ‘Não existia nenhum tipo de inconsistência contábil propriamente dita. O que existia era uma fraude de grandes proporções'”, afirmou o advogado.

Vilardi ressaltou a importância da colaboração com as autoridades desde o início da crise na empresa. Ele defendeu a seriedade da investigação realizada e eximiu o Conselho de Administração e os acionistas de responsabilidade no caso. Ele também apontou a sofisticação da fraude e a extensão do envolvimento de diversas pessoas da empresa, desde os escalões mais altos até os intermediários.

O advogado mencionou a presença de fraudes financeiras que se mantiveram ocultas por anos, envolvendo diversos setores da companhia, e a surpreendente falta de denúncias internas que poderiam ter interrompido a fraude antes.

Vilardi destacou a complexidade da fraude de caixa e como a manipulação de elementos como empréstimos e verbas obscurecia a real situação financeira da empresa. Ele enfatizou que a participação de tantas pessoas e a falta de denúncias internas contribuíram para a perpetuação do esquema fraudulento.

Sobre a prisão do ex-CEO Miguel Gutierrez, Vilardi respeitou a presunção de inocência, mas indicou que elementos apontam para a participação da diretoria e, consequentemente, de Gutierrez, no esquema fraudulento.

A investigação interna conduzida pelo advogado não encontrou indícios da participação do Conselho de Administração na fraude, ao contrário, foram encontrados documentos que indicavam tentativas de ocultar informações da alta gestão.

Vilardi mencionou que a fraude provavelmente envolve mais pessoas do que as identificadas pela Polícia Federal e discutiu a relação entre governança, compliance e a possibilidade de fraudes sofisticadas no ambiente corporativo.

Em resumo, a operação Disclosure revelou um esquema de fraude complexo e duradouro que envolveu diversos setores da empresa, desafiando a governança e compliance existentes, e colocando em foco a importância da colaboração com as autoridades para desvendar crimes financeiros de grande impacto.


RAIO-X | Celso Vilardi

Formado em Direito e mestre em Direito Processual Penal (PUC-SP), Celso Vilardi é um renomado advogado que atuou em casos de grande repercussão, como a Lava Jato. Ele é autor de diversos artigos e do livro “Aspectos Atuais do Direito do Mercado Financeiro e de Capitais” e integra o Chambers and Partners: Latin America.


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