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Guardas de trânsito: onde estão eles? O sumiço dos agentes que marcaram época no dia a dia da cidade do Rio.




Artigo sobre Guardas de Trânsito no Rio de Janeiro

O Rio já teve guardas de trânsito. E alguns eram memoráveis. Eles tinham postos fixos, em cruzamentos de tráfego mais intenso de veículos, ou em portas de escolas. Assim, se tornavam conhecidos da vizinhança, que muitas vezes sabia seus nomes. Eles davam bom dia aos passantes, ajudavam os mais velhos a atravessar as ruas e paravam o trânsito para as crianças chegarem às portas das escolas.

Alguns desses guardas foram temas de matérias de jornais e TVs, fosse pela gentileza que demonstravam com as crianças e os idosos, fosse pela coreografia que executavam, usando braços, torções de corpo e expressões faciais para dar passagem aos veículos que cruzavam em diversas direções. O apito que sempre traziam à boca marcava a sonoridade da cidade.

Eles também sabiam ser temidos, especialmente quando sacavam suas cadernetas para anotar a placa de um veículo infrator. Ao ver o guarda se aproximar pelo retrovisor, motoristas parados em locais proibidos logo ligavam seus carros tentando sair dali.

Alguns guardas eram acessíveis e, no caso de uma anotação, até valia à pena sair do carro e ir a pé até eles, uma demonstração de humildade, para explicar que o sinal havia fechado repentinamente, que o estacionamento em local proibido se devia a um caso de extrema necessidade, ou que a falta de documentos era em função da saída apressada para resolver um caso de doença na família.

Tais argumentos, muito batidos, às vezes, surpreendentemente, eram capazes de reverter a anotação. Saber ouvir calado uma preleção fazia parte da tentativa de escapar de uma multa. O “seu” guarda era camarada e tudo terminava em juras de que a infração nunca mais ocorreria.

Se os argumentos não tivessem a força necessária para anular a infração, uma ajuda financeira passada com discrição, em certos casos, também ajudava. Esses eram os venais que não aliviavam a punição, mas baixavam consideravelmente o seu valor, desde que o desembolso fosse imediato, e para eles. Essa prática, bastante generalizada, não era entendida, ou percebida, como corrupção, uma vez que esta era somente o que acontecia nos gabinetes dos políticos, e que todos, claro, condenavam.

De qualquer forma, no trânsito da cidade havia guardas de trânsito que buscavam reduzir a confusão a níveis suportáveis e que mantinham a rebeldia do motorista carioca em patamares aceitáveis. Hoje eles simplesmente sumiram. Os policiais que patrulham as ruas só se preocupam com crimes e seus celulares. Se não veem pequenos delitos, como a vandalização de uma cesta de lixo ou o roubo de fios, como veriam infrações de trânsito?

Atualmente, câmeras controlam se o motorista invade as faixas exclusivas de ônibus, ou se passa acima da velocidade permitida em certos locais. Câmeras implacáveis que, num flash, capturam a imagem do veículo e já enviam a multa para o endereço do infrator. Mas elas só existem em locais específicos, em corredores de tráfego mais intenso. Nas demais ruas o carioca se sente livre para parar em locais proibidos ou em fila dupla, ou para subir em calçadas e invadir ciclovias.

Há também o serviço terceirizado de guincho para recolhimento de veículos infratores a estacionamentos localizados nos locais mais inacessíveis da cidade, o pesadelo do motorista bandalheiro. Mas nada disso é capaz de coibir as infrações de trânsito, uma normalidade em terras cariocas. Elas prosperam como nunca, na certeza de que não surgirá no espelho retrovisor um guarda com sua temida caderneta.

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