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Indigência dos estudantes perante os eventos no DOI-Codi: um choque para alguns.

Nos últimos 13 dias, estudantes e pesquisadores participaram de ações educativas no Memorial DOI-Codi, antigo centro de tortura e execução de opositores da ditadura militar no Brasil. Durante as atividades, os alunos tiveram a oportunidade de questionar a falta de ação dos vizinhos e a passividade diante dos horrores ocorridos no local.

O DOI-Codi foi responsável por violações de direitos humanos durante a ditadura instaurada após o golpe de 1964. Como complemento ao trabalho de campo, os pesquisadores encontraram vestígios do passado, como uma inscrição deixada por um preso político e objetos relacionados aos horrores vividos no local. Esses objetos ficarão sob a guarda da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) até que seja estruturado um memorial, que terá também uma versão online.

Deborah Neves, coordenadora do Grupo de Trabalho Memorial DOI-Codi, informou que a iniciativa depende apenas do aval do governo de São Paulo para se concretizar. Segundo ela, a pesquisa desenvolvida pelos acadêmicos oferece fundamentos suficientes para justificar o projeto.

Durante coletiva de imprensa, os pesquisadores revelaram que uma vizinha do centro clandestino procurou a equipe para relatar que ouvia os gritos dos presos. Com a abertura das visitas guiadas, outros moradores também contribuíram com relatos sobre aquele período sombrio da história brasileira. Parte da comunidade afirmou que desconhecia a existência do prédio e dos horrores que nele ocorriam.

Ao todo, mais de 800 visitantes, incluindo alunos de escolas do bairro de Vila Mariana e de outras regiões, estiveram no local durante as atividades. Aline Vieira de Carvalho, pesquisadora da Unicamp, destacou que a iniciativa despertou o interesse da sociedade, apesar das dificuldades enfrentadas pelos pesquisadores para obter financiamento.

Andrés Zarankin, responsável pela área de arqueologia, ressaltou que discutir questões ligadas à repressão do Estado nem sempre é bem recebido. No Brasil, segundo ele, a falta de vontade política e a permanência do autoritarismo contribuem para que esse tipo de debate seja evitado. Zarankin destacou a reverência dada a torturadores, como o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, do Exército.

O projeto do Memorial DOI-Codi conta com um orçamento bastante limitado e tem sido conduzido com a ajuda de voluntários. Através do Instagram, é possível acompanhar o andamento do trabalho, que inclui a coleta de depoimentos de ex-presos políticos e parentes das vítimas que passaram pelos porões do DOI-Codi.

A iniciativa de resgatar a memória do passado sombrio do Brasil é fundamental para a construção de uma sociedade mais justa e democrática. Espera-se que o governo de São Paulo aprove o projeto e que mais pessoas se interessem em conhecer a história para que atrocidades como as ocorridas no DOI-Codi nunca mais se repitam.

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