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O Universo Lírico de Artacho Jurado
Ao adentrar na mostra “Ocupação Artacho Jurado”, em cartaz no Itaú Cultural, os visitantes são imersos em um mundo lírico e grandioso, assinado por um dos grandes nomes da arquitetura moderna brasileira. As caixas de som inundam o espaço com árias favoritas do arquiteto, conhecido por desenhar seus projetos enquanto ouvia ópera.
Essa peculiaridade é uma pista para compreender o comportamento megalomaníaco de Jurado, que até mesmo sua família costumava brincar. A mostra, organizada por Guilherme Giufrida e Jéssica Varrichio, exibe logo na primeira seção uma foto do arquiteto cortando um bolo de aniversário ao lado da filha, em formato de uma enorme réplica do edifício Viadutos, localizado no bairro do Bexiga, com todos os detalhes dos pilotis.
Giufrida comenta sobre a visão pragmática e comercial de Jurado, algo incomum entre seus colegas arquitetos. O idealizador dos edifícios Viadutos e Bretagne enfrentou críticas devido à sua abordagem, sendo muitas vezes visto como um marqueteiro, mesmo não possuindo formação universitária na área. Seu trabalho, durante os anos 1950, foi considerado kitsch para a elite emergente da época.
A relação de Jurado com o modernismo era tensa, mas ele conseguiu moldar o estilo com suas próprias idiossincrasias. Abandonando a sobriedade do concreto armado, incorporou revestimentos de vidrotil coloridos em suas criações, combinando cores de forma extravagante, como o rosa e o azul. Além disso, inovou ao incluir espaços de convivência nos edifícios, como piscinas, brinquedoteca e bares, antecipando a tendência de oferecer comodidades encontradas em clubes privados dentro das residências.
A mostra “Ocupação Artacho Jurado” reúne 130 peças, incluindo fotos, desenhos e maquetes, destacando a aspiração artística do arquiteto, mesmo em meio às demandas comerciais. Giufrida destaca a paixão dos paulistanos pelos prédios de Jurado, reconhecendo a importância de suas construções como monumentos para o futuro.
De origem espanhola, Jurado iniciou sua carreira como letrista de cartazes em neon, antes de se dedicar à construção civil. Em colaboração com seu irmão, fundou a Construtora Monções e criou a Cidade Monções, na zona sul de São Paulo, com casas padronizadas e inspiradas nos subúrbios americanos. Sua fascinação pelo “american dream” permeava seu trabalho, refletido nas fotografias de Hans Günter Flieg expostas na mostra.
As imagens capturadas por Flieg revelam modelos posando nos empreendimentos de Jurado, que se tornaram símbolos da capital paulista. A maquete apresentada na exposição destaca a concentração de edifícios em Higienópolis, como o Edifício Bretagne, que mantém sua sofisticação até os dias atuais, com um bar no hall e uma marquise sinuosa no 19º andar.
A inauguração dos edifícios de Jurado era considerada um grande evento social, reunindo personalidades diversas para celebrar. No entanto, a construtora acabou sofrendo os impactos da inflação, encerrando uma era de grandiosidade e opulência.
A obra de Artacho Jurado se destaca na paisagem de São Paulo como uma cenografia que se impõe, assim como uma ópera cativa o público em um teatro lírico.