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O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou veementemente o comportamento da mineradora Vale nos processos de reparação das tragédias que ela protagonizou nos últimos anos em Minas Gerais. Lula fez referência aos desastres de Mariana, em 2015, e Brumadinho, em 2019, ambos envolvendo barragens de rejeitos de mineração da empresa.
Em Mariana, a ruptura da barragem da Samarco (joint-venture entre Vale e BHP Billiton) deixou 19 mortos e causou danos ambientais devastadores ao longo da bacia do Rio Doce. Já em Brumadinho, o acidente resultou na morte de 272 pessoas, a maioria sendo empregados da Vale ou de empresas terceirizadas contratadas.
O tema da reparação dessas tragédias foi abordado por Lula durante as tratativas para repactuar o acordo de indenização das vítimas de Mariana, implementado por meio da Fundação Renova. Este modelo de reparação tem sido duramente criticado pelo governo federal, governos estaduais, Ministério Público e entidades representativas das comunidades atingidas.
Com mais de 85 mil processos judiciais tramitando, as negociações para uma nova repactuação do acordo têm se arrastado por mais de dois anos. As mineradoras têm oferecido valores considerados insuficientes, o que tem impedido um consenso até o momento. O último valor proposto pelas empresas é de R$ 82 bilhões em 20 anos, enquanto os governos de Minas Gerais, Espírito Santo e União solicitaram R$ 109 bilhões em 12 anos.
Lula destacou a importância de haver responsabilidade por parte das empresas envolvidas, afirmando: “Uma empresa boa e grande precisa ter alguém responsável para que as coisas possam funcionar corretamente”. Ele ainda comparou a situação a um cachorro com muitos donos, sugerindo que a falta de centralização de responsabilidades prejudica a efetividade das ações de reparação.
Procurada pela Agência Brasil, a Vale preferiu não comentar as declarações do ex-presidente. No entanto, a empresa informou que já destinou R$ 37 bilhões para ações de reparação relacionadas a Mariana, incluindo indenizações e auxílios financeiros. Com relação a Brumadinho, mais de 16 mil atingidos já teriam fechado acordos de indenização cível e trabalhista, totalizando R$ 3,7 bilhões em pagamentos.