Desigualdades sociais no Brasil motivam busca por apoio ao aborto legal após 22 semanas, alertam pesquisadoras em debate sobre PL 1904.

O aumento no número de estupros, com 74.930 casos registrados no ano passado, sendo a maioria contra vulneráveis, evidencia a necessidade de uma legislação que garanta o direito de interrupção da gravidez em casos de estupro. No entanto, o acesso ao aborto legal ainda enfrenta diversos obstáculos, especialmente para meninas e mulheres em situação de vulnerabilidade.
No ano passado, o Ministério da Saúde registrou 2.687 casos de aborto legal, sendo 140 de meninas com menos de 14 anos. Esse número reflete a dificuldade enfrentada por jovens que são vítimas de abuso sexual, muitas delas sem compreenderem sua própria gravidez devido à falta de informação e ao contexto de violência em que se encontram.
A socióloga Jacqueline Pitanguy destaca que a ausência de um prazo estabelecido para a interrupção da gravidez em casos de estupro revela falhas no sistema público de saúde, que nem sempre consegue prover serviços acessíveis e adequados às necessidades das mulheres. Essa realidade é agravada pela falta de estrutura nos municípios, o que impacta diretamente o acesso das mulheres ao aborto legal.
Além disso, a estigmatização em torno do aborto contribui para a invisibilidade dos casos de violência e para a perpetuação de situações de vulnerabilidade. Proposições semelhantes ao PL 1904 reforçam o medo e a insegurança das mulheres que buscam interromper gestações indesejadas, muitas vezes resultantes de estupros.
Diante desse cenário, é fundamental garantir o acesso ao aborto legal de forma segura e protetiva, de acordo com a legislação vigente no Brasil. Os profissionais de saúde e o sistema público devem estar preparados para acolher e orientar as mulheres que buscam esse serviço, garantindo seus direitos reprodutivos e a proteção de sua saúde.
Em suma, a discussão em torno do aborto legal no Brasil deve levar em consideração as desigualdades sociais e os desafios enfrentados pelas mulheres, especialmente as mais vulneráveis, em busca de assistência médica segura e respeitosa. A garantia do acesso ao aborto legal é uma questão de saúde pública e de respeito aos direitos humanos das mulheres.