
Zona de Prostituição em São Paulo: Um Passado de Controle e Repressão
Quem passa hoje pelas ruas Aimorés e Cesare Lombroso, antes chamada de Itaboca, no Bom Retiro, se depara com uma profusão de lojas de roupas finas femininas. Essa paisagem comercial, porém, situada ao lado da linha de trem, esconde um passado de opressão e vergonha.
Ali funcionou a zona de prostituição mais conhecida de São Paulo entre as décadas de 1940 e 1950. Foi implantada por decreto pelo interventor no estado, Adhemar de Barros, durante a ditadura do Estado Novo, para ser uma zona de confinamento de serviços sexuais que não interferisse na cotidiano da cidade.
Motivado por ideias higienistas e eugenistas, Adhemar, médico de formação, queria eliminar a baixa prostituição da parte próspera da capital e concentrá-la em um único lugar controlado pela polícia. Essa medida cruel forçava as prostitutas a ficarem isoladas numa espécie de prisão a céu aberto, enquanto a prostituição de luxo continuava sem freios em outros locais.
Nas ruas Aimorés e Itaboca ficavam as mulheres de baixa classe social, muitas fugidas da guerra na Europa e migrantes recém-chegadas na cidade. Estima-se que houvesse na região cerca de 150 casas de tolerância e mais de mil meretrizes no final da década de 1940.
O decreto que criou a zona do Bom Retiro foi baixado por Adhemar no final de 1939 e vigorou até 1953. A população que vivia anteriormente na região foi desalojada para atender a vontade do governo.
Em 1953, o prefeito Jânio Quadros suspendeu o alvará de funcionamento dos bares na área, desarticulando a zona de prostituição. No entanto, em 1957, a rua Itaboca foi renomeada para Cesare Lombroso, médico eugenista que estudou a criminalidade feminina.
Essa história controversa da zona de prostituição no Bom Retiro revela um passado de controle, repressão e estigmatização que marcou a cidade de São Paulo.