Falta de um olhar para o trabalho do cuidado de idosas em condições análogas à escravidão dificulta identificação de violência

Anteriormente, nas operações de fiscalização em áreas rurais, era comum encontrar homens em condições análogas à escravidão, porém não havia resgates de mulheres. Juliane Monetti destaca que as mulheres eram consideradas como parte da família, mesmo realizando trabalhos domésticos, o que relegava a importância de reconhecer a exploração dessas trabalhadoras. A questão de gênero é enfatizada pela procuradora, ressaltando que essas mulheres muitas vezes começam como babás e, ao longo da vida, acabam cuidando de idosos, sem terem direitos básicos respeitados.
Um caso emblemático foi o de Maria de Moura, resgatada aos 87 anos após décadas de trabalho doméstico em condições análogas à escravidão. A sobrinha, Ana Luiza de Moura Lima, revelou a história de sua tia, que foi trazida para o Rio de Janeiro aos 12 anos e nunca teve uma vida digna, passando a maior parte de sua vida como empregada doméstica sem acesso à escola ou direitos trabalhistas básicos.
A denúncia da família de Maria levou à intervenção do Ministério Público do Trabalho, que propôs ações para garantir o ressarcimento das verbas trabalhistas e indenizações por danos morais. A procuradora Juliane Monetti enfatiza a importância de divulgar esses casos para conscientizar a sociedade sobre a gravidade da exploração de idosas em condições semelhantes à escravidão.
O Ministério Público Federal tornou réus os patrões de Maria de Moura, em um esforço para responsabilizar os exploradores por submeterem a idosa a essa situação degradante. Juliane Monetti destaca a necessidade de denúncias e incentiva a população a utilizar os canais disponíveis para reportar casos de exploração de trabalho doméstico. A luta pela justiça na garantia dos direitos básicos e na reparação do sofrimento causado por décadas de trabalho escravo é essencial para combater essa forma de violência e discriminação.