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Falta de um olhar para o trabalho do cuidado de idosas em condições análogas à escravidão dificulta identificação de violência

A negligência em relação ao trabalho de cuidado realizado por idosas em situação análoga à escravidão em áreas rurais dificulta a identificação da violência contra essas mulheres. A procuradora do Ministério Público do Trabalho, Juliane Monetti, especialista nesse tipo de trabalho há 15 anos, alerta para a invisibilidade desses casos, em que mulheres idosas desempenham funções domésticas sem receber os devidos direitos trabalhistas.

Anteriormente, nas operações de fiscalização em áreas rurais, era comum encontrar homens em condições análogas à escravidão, porém não havia resgates de mulheres. Juliane Monetti destaca que as mulheres eram consideradas como parte da família, mesmo realizando trabalhos domésticos, o que relegava a importância de reconhecer a exploração dessas trabalhadoras. A questão de gênero é enfatizada pela procuradora, ressaltando que essas mulheres muitas vezes começam como babás e, ao longo da vida, acabam cuidando de idosos, sem terem direitos básicos respeitados.

Um caso emblemático foi o de Maria de Moura, resgatada aos 87 anos após décadas de trabalho doméstico em condições análogas à escravidão. A sobrinha, Ana Luiza de Moura Lima, revelou a história de sua tia, que foi trazida para o Rio de Janeiro aos 12 anos e nunca teve uma vida digna, passando a maior parte de sua vida como empregada doméstica sem acesso à escola ou direitos trabalhistas básicos.

A denúncia da família de Maria levou à intervenção do Ministério Público do Trabalho, que propôs ações para garantir o ressarcimento das verbas trabalhistas e indenizações por danos morais. A procuradora Juliane Monetti enfatiza a importância de divulgar esses casos para conscientizar a sociedade sobre a gravidade da exploração de idosas em condições semelhantes à escravidão.

O Ministério Público Federal tornou réus os patrões de Maria de Moura, em um esforço para responsabilizar os exploradores por submeterem a idosa a essa situação degradante. Juliane Monetti destaca a necessidade de denúncias e incentiva a população a utilizar os canais disponíveis para reportar casos de exploração de trabalho doméstico. A luta pela justiça na garantia dos direitos básicos e na reparação do sofrimento causado por décadas de trabalho escravo é essencial para combater essa forma de violência e discriminação.

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