DestaqueUOL

Extremismo de centro: a luta política entre bolsonaristas e defensores de Lula mostra a divisão ideológica no país.





EXTREMISMO DE CENTRO
Acusa-se Lula aqui e ali de ter falhado na tarefa de “pacificar o país”. Hein? Pacificar quem com quem? Curiosamente, são os mesmos que preferem bater em Alexandre de Moraes a confrontar golpistas, tratados como vítimas…

Bolsonaristas são, afinal, bolsonaristas. Se lutam contra a vacina, podem fazer qualquer coisa. Cumprem o seu papel. Boa parte do rancor contra Lula, no entanto, vem do que chamo “extremismo de centro”, que ainda não se conformou com a eleição do petista e sonha com um “Dom Sebastião” de seus delírios. É, sim, uma gente reacionária até a medula. E lastima em Bolsonaro não o seu reacionarismo, mas a sua, digamos, sinceridade… Formam a tal “direita limpinha”, de que Fabio Wajngarten, advogado e assessor do ex-presidente, faz pouco caso.

Cheguei a achar — mas já mudei de ideia faz tempo — que esses valentes mantinham, ao menos, o compromisso com a democracia e o respeito às regras do jogo. Errado. Se o Capitão e seus sequazes tramaram um golpe de Estado por razões político-ideológicas, estes outros não hesitam em tentar levar um governo à lona porque não o consideram “fiscalmente responsável”…

E, é evidente, tentam construir o nome de Tarcísio, o “bolsonarista moderado de centro”, como alternativa. A propósito: ao saudar Campos Neto na Assembleia Legislativa — laureado por uma das vozes do golpismo –, o governador de São Paulo apelou a uma metáfora um pouco estranha, mas evidenciou a construção de um discurso eleitoral:
“[Alguém] perguntou: ‘Poxa, você vai na homenagem ao Roberto Campos?’ Eu disse: ‘Vou. É meu ET preferido’. É um extraterrestre porque… E tem alguns extraterrestres que a gente tem o privilégio de conhecer, algumas pessoas absolutamente fora da curva, e o Roberto Campos é um desses caras absolutamente fora da curva, preocupado, por exemplo, com a questão das vacinas. Pouca gente lembra que, na época, ou pouca gente sabe, na verdade, ou acompanhou, teve a oportunidade de acompanhar, e eu vi isso de perto: o Brasil fechou o acordo com a Pfizer porque o Roberto Campos intermediou… Como você quis ajudar o governo passado; como você tenta ajudar este governo. Não tem partido, não tem direita para você, não tem esquerda, tem Brasil. Que orgulho poder dizer não só que eu trabalhei com você, mas estou aqui para dizer: ‘Que orgulho de ser seu amigo!'”

A história sobre a Pfizer precisa ser mais em contada, mas isso é irrelevante agora. Observem ali: “Não somos contra vacina; não tem partido; não tem direita, não tem esquerda, tem Brasil.” Entendi.

ENCERRANDO
Embora seja óbvio que Campos Neto tem estado reiteradamente fora do lugar, é do jogo que se busque construir o que, por enquanto, é uma quimera (e, pois, impossível): o “bolsonarismo moderado de centro”. O aspecto deletério não está aí.


Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo