
Para mim, peregrinar é uma coisa, pagar penitência é outra. Se me doem os pés ou os joelhos, eu paro, me sento, tiro as botas, estico os pés à sombra e descanso o tempo que for necessário. Minhas peregrinações são de reflexão.
Pelos campos, Carlos Gil já sabe perfeitamente onde pernoitar, onde encontrar uma casa que lhe dará guarida, um chão onde estender o saco de dormir. E, evidentemente, sabe onde encontrar água e alimento. Conhece as tascas e os restaurantes das áreas que percorre, como um caixeiro-viajante. As jornadas são exigentes fisicamente. Normalmente, ele leva até sete dias caminhando para percorrer os 165 quilômetros que separam Cascais do santuário de Fátima.
Destinos e desafios
Gil já visitou destinos notáveis, como a basílica de Nossa Senhora Aparecida, no Brasil; o santuário de Nossa Senhora da Conceição da Muxima, em Angola; e percorreu os caminhos de Santiago de Compostela, na Espanha. A peregrinação em Angola foi especialmente desafiadora devido ao ambiente pós-guerra.
Foi de certa forma feita de maneira inocente, pois não pensei nos riscos. Aconteceu-me, por exemplo, de repente no meio do mato ficar ‘envolvido’ por um enxame de abelhas, mas por milagre nenhuma me picou. Ainda hoje me lembro do barulho que faziam. Passei também por zonas minadas, o que deixou o trajeto ainda mais dificultoso e arriscado.
Carlos Gil
Transformando dor em amor
Apesar das dificuldades físicas e da ausência de sua família durante suas peregrinações, Gil diz que não sente solidão. Ele carrega consigo um celular desligado para evitar distrações e só liga à noite para falar com sua esposa, garantindo que está tudo bem. “Sou capaz de transformar a dor em amor”, afirma, explicando que ele vê suas caminhadas como um momento de conexão espiritual. “Se Deus existe, é quando caminho que estou com Ele”, reflete.