DestaqueUOL

Investimentos na mobilidade urbana das cidades-sede da Copa do Mundo no Brasil resultam em obras ainda não entregues após uma década.




Artigo sobre Obras de Mobilidade na Copa do Mundo

Dez anos depois: Obras de Mobilidade na Copa do Mundo ainda são uma promessa não cumprida


Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba, Salvador, Recife, São Paulo, Manaus e Rio de Janeiro

Após uma década desde o início da Copa do Mundo no Brasil, diversas cidades-sede do evento enfrentam desafios com obras de mobilidade urbana que nunca foram concluídas. Um levantamento aponta que pelo menos 13 obras permanecem inacabadas até os dias atuais, sendo que seis delas sequer saíram do papel, representando promessas não cumpridas após o torneio. Além disso, algumas obras foram entregues parcialmente ou com significativas modificações em relação à proposta original.

Em um contexto de atrasos, aproximadamente 16 obras foram finalizadas na última década, sendo a mais recente a duplicação de uma avenida em Porto Alegre, concluída ainda este ano. Em contraste, mais de 30 obras relacionadas à mobilidade, aeroportos e portos foram entregues antes da Copa do Mundo, mesmo que com poucos dias de antecedência.

Todo esse cenário contrasta fortemente com a Matriz de Responsabilidades, documento que engloba os compromissos de investimento assumidos pelo governo federal em decorrência do torneio de 2014. Foram destinados cerca de R$ 8,7 bilhões para intervenções viárias nos arredores dos estádios e para a mobilidade urbana, considerada um dos principais desafios enfrentados pelas populações das grandes metrópoles brasileiras. Esse montante representou a maior fatia de investimento do programa, cerca de R$ 400 milhões a mais do que foi destinado para a construção e reforma das arenas esportivas.

Um exemplo emblemático do investimento desperdiçado nas obras de mobilidade é o sistema de VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) em Cuiabá, onde seis quilômetros de trilhos foram instalados, mas a obra nunca foi inaugurada. O governador Mauro Mendes optou por abandonar o VLT em 2020 e transformar o sistema em BRT (ônibus de alta velocidade), alegando custo mais baixo de implantação, maior rapidez na conclusão e tarifas mais acessíveis.

Na capital baiana, Salvador, o metrô se destacou como o principal legado na mobilidade urbana da cidade, completando 10 anos de operação. Contando com 38 km de extensão, duas linhas, 22 estações e dez terminais integrados, o metrô transporta em média 400 mil pessoas por dia. Entretanto, a história era diferente em 2014, quando o primeiro trecho foi inaugurado após 14 anos de obras e disputas entre prefeitura e governo estadual.

Em São Paulo, a estrutura incompleta do monotrilho da linha 17-ouro é um símbolo da promessa não cumprida para a Copa. A obra enfrentou diversos obstáculos, como o rompimento de contratos por fornecedores, envolvimento de construtoras na Lava Jato e os impactos da pandemia de Covid-19. Apesar do aspecto de abandono, o governo estadual garante que as obras estão em andamento e a previsão é entregá-las somente em 2026.

Esses atrasos prolongados podem ser explicados pelas mudanças na política econômica do país antes e depois de 2014. O economista Ciro Biderman ressalta que o segundo governo de Dilma Rousseff cortou investimentos em 2015, impactando diretamente nos projetos de infraestrutura. A austeridade continuou no governo de Michel Temer e foi agravada pela pandemia de Covid-19, afetando ainda mais as finanças públicas.

Porto Alegre teve obra da Copa entregue dias antes da enchente

Em Porto Alegre, a duplicação da avenida Tronco foi finalizada em abril deste ano, apenas alguns dias antes da capital ser atingida por uma enchente. Outros projetos, como a duplicação do trecho 2 da avenida Voluntários da Pátria e um terminal rodoviário ao lado da estação de metrô São Pedro, não foram concluídos. A gestão atual busca retomar esses projetos e está em busca de recursos para sua finalização.

No entanto, a implantação do BRT deixou um legado parcial, com corredores em três avenidas sendo transformados em faixas exclusivas para ônibus regulares.

Manaus e Brasília tiveram obras que nunca saíram do papel

O monotrilho Norte-Centro, em Manaus, nunca foi efetivamente concretizado. Segundo nota do governo do Amazonas, a execução do projeto foi considerada inviável por questões técnicas, financeiras e jurídicas. Já a modernização do porto de Manaus, adiada para após a Copa, está em andamento.

Em Brasília, o VLT planejado nunca foi concretizado, com o projeto sendo embargado em 2011 por suspeitas de irregularidades no contrato de execução.

Curitiba e Fortaleza optaram por projetos mais simples

Em Curitiba, a maioria das obras contratadas para a Copa foi finalizada antes do evento, com exceção da ampliação do Terminal Santa Cândida, concluída somente em 2019. O BRT planejado entre o aeroporto e a rodoferroviária foi simplificado e finalizado antes dos jogos.

Em Fortaleza, as obras de BRT foram substituídas por modificações viárias mais simples, pois o sistema de BRT não se mostrou eficaz a longo prazo, sendo retirado do escopo dos projetos municipais.

BH e Recife enfrentaram atrasos significativos

Em Belo Horizonte, as obras da Via 710 atrasaram sete anos, sendo finalizadas somente em 2023. A complexidade das obras e os trâmites legais das desapropriações foram apontados como causas para o atraso. Já no Aeroporto Internacional de Belo Horizonte, apenas parte das obras foi concluída para a Copa, com a administração sendo concedida à iniciativa privada posteriormente.

Em Recife, três obras de mobilidade não foram totalmente finalizadas, resultando em entregas parciais. O terminal Cosme e Damião, que integra metrô e ônibus, atende atualmente apenas mil pessoas por mês.


Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo