
Repercussões do “Efeito Roberto Campos Neto” no Mercado Financeiro
A adoção de um tom menos duro por parte do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em relação aos riscos inflacionários, teve um impacto significativo no mercado financeiro nesta quarta-feira (20). Essa mudança de postura acabou desviando a atenção da expectativa em torno da antecipação da indicação do seu sucessor na presidência do BC.
Campos Neto, em declarações feitas em um evento organizado pelo BTG e em entrevista ao jornal O Globo, contribuiu para a valorização do dólar e o aumento dos juros futuros. No dia anterior, o dólar havia recuado para R$ 5,40 e os juros futuros também haviam apresentado queda após declarações duras do diretor de Política Monetária do BC, Gabriel Galípolo, sinalizando uma possível alta de juros.
A mudança repentina nos ativos financeiros, com movimentações opostas, reforçou as especulações de que Galípolo e Campos Neto possam ter interpretações diferentes sobre os riscos inflacionários.
Em entrevista ao jornal O Globo, o presidente do BC adotou um tom otimista ao mencionar que a economia brasileira está em uma boa fase e que o cenário internacional tem melhorado. Ele ressaltou que, apesar do mercado falar em alta da Selic, os economistas não compartilham dessa visão. Campos Neto também destacou que há divergências entre os membros do Copom sobre a simetria dos riscos de alta e baixa da inflação.
No evento do BTG, Campos Neto enfatizou a expectativa de uma desaceleração ordenada nos Estados Unidos e enfatizou que o BC está aguardando dados econômicos para decidir sobre os juros. Esse tom mais suave contrasta com as declarações consecutivas de Galípolo, que, como favorito para suceder Campos Neto, tem influenciado as expectativas do mercado e contribuído para a queda do dólar.
Galípolo tem reforçado a possibilidade de alta de juros e deixou claro que todos os diretores nomeados por Lula estariam dispostos a seguir esse caminho, se necessário para atingir a meta de inflação. O diretor do BC ressaltou que vê mais riscos de alta do que de baixa, enquanto Campos Neto se absteve de revelar sua posição.
Essa assimetria nos riscos foi destacada na ata da última reunião do Copom e interpretada pelo mercado como um sinal de possível alta de juros. O documento mencionou dois riscos de baixa versus três riscos de alta, ressaltando que “vários” membros enfatizaram essa assimetria no balanço de riscos. Isso aponta para divergências no Copom em relação à possível elevação da taxa Selic.
Em meio a essas polêmicas, os ruídos em torno da possibilidade de uma antecipação da indicação do presidente Lula para o comando do BC foram deixados em segundo plano. O impasse relacionado às emendas parlamentares suspensas pelo STF criou um clima desfavorável no Senado para essa antecipação, com senadores cogitando adiar a decisão para depois das eleições municipais.
Aliados de Rodrigo Pacheco, presidente do Senado, acreditam que, enquanto não houver acordo, o ambiente político não será propício para a sabatina do indicado por Lula na CAE. Pacheco, após um encontro com Lula, afirmou que aguardará a indicação dos nomes para então definir o cronograma de avaliação no Senado.