DestaqueUOL

Privatização iminente ameaça o futuro da AySA, empresa responsável pelo saneamento de Buenos Aires há 18 anos



AySA: da concessão à reestatização, a incerteza do futuro

AySA: da concessão à reestatização, a incerteza do futuro

Localizado no bairro de Balvanera, em Buenos Aires, o Palácio de Águas Correntes chama a atenção de quem passa pela região. Porém, por trás da imponente construção, está o primeiro depósito de água da capital argentina, com capacidade para abrigar até 72 milhões de litros de água potável. O grande tanque é um símbolo dos tempos áureos do sistema de água e saneamento de Buenos Aires, sendo considerado uma referência para toda a América Latina.

Após passar por diferentes gestões, o sistema de água e saneamento portenho está nas mãos do Estado há 18 anos consecutivos. No entanto, sob o governo de Javier Milei, a empresa está prestes a ser reprivatizada, gerando incerteza e preocupação entre os funcionários.

A AySA é responsável pelo tratamento de água e pela rede de esgoto de Buenos Aires e de mais 26 cidades vizinhas, como Tigre. Apesar de não ter sido formalmente concedida, os trabalhadores da empresa já sentem os impactos das possíveis mudanças em curso.

Com o objetivo de reduzir custos e aumentar a eficiência, a empresa pretende cortar cerca de 15% dos gastos operacionais e diminuir o quadro de funcionários. Um programa de demissões voluntárias já contou com a adesão de mais de 800 empregados, com a meta de chegar a 1.140. No início deste ano, a AySA contava com aproximadamente 7.600 funcionários.

Analisando a empresa durante seus anos estatais, nota-se que a cobertura do sistema foi ampliada, permitindo que 75% das residências da área atendida tenham acesso à água potável e 61% à rede de esgoto. Em comparação com o período de concessão à empresa francesa Suez, essas taxas eram de 86% e 72%, respectivamente.

No entanto, a empresa enfrenta um déficit crescente, estimado em 1,6 bilhão de pesos em 2023. A política de reajustes moderados nas tarifas durante o governo de Alberto Fernández contribuiu para a situação financeira delicada da AySA. Recentemente, a empresa anunciou um aumento de 209% em suas tarifas, impactando diretamente os consumidores, em um momento de alta inflação na Argentina.

O futuro incerto da AySA traz à tona lembranças do processo de reestatização nos anos 2000 e coloca em xeque a gestão e a viabilidade da empresa em um cenário de constantes mudanças. Em meio a debates sobre privatização e necessidade de investimentos, resta saber como a AySA enfrentará os desafios que se apresentam em seu caminho.

Para conhecer mais sobre a história do saneamento em Buenos Aires e visitar o museu localizado no Palácio de Águas Correntes, os interessados podem acessar o site oficial da AySA para informações sobre visitas guiadas.

Breve histórico da água e do saneamento em Buenos Aires

  • 1912 – Criada a empresa estatal Obras Sanitárias da Nação, responsável pelos serviços na capital e arredores;
  • 1993 – Concessão da empresa para um grupo francês, passando a se chamar Águas Argentinas;
  • 2006 – Reestatização da empresa durante o governo de Néstor Kirchner, transformando-a em AySA;
  • 2024 – Possibilidade de nova concessão, caso a Lei Ônibus seja aprovada no Congresso.

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo