A literatura, o esporte e a música têm papel fundamental na ressocialização de detentos.

De acordo com a advogada Adriana Nunes Martorelli, de 57 anos, esse tipo de ação contribui para a criação de um ambiente mais acolhedor para os presos. Ela ressalta que o aprisionamento é um processo doloroso para todos os envolvidos e que, ao ficarem restritos, os detentos perdem sua autonomia e capacidade de reflexão. Adriana tem experiência em projetos artísticos voltados para mães presas com seus bebês.
Paulo Milhan, de 49 anos, que já foi preso três vezes sob suspeita de tráfico de drogas, teve contato com a literatura em um desses projetos realizados dentro da prisão. Na época, ele estava em uma penitenciária em Andradina, a 600 km de São Paulo, quando a unidade promoveu um concurso de poesias em parceria com a Funap, entidade ligada ao governo paulista que atua na ressocialização de presos.
Embora não tenha incluído seu poema no concurso, Milhan obteve sucesso com a poesia na prisão ao inspirar outras pessoas a escreverem. Seus versos se tornaram a base de seu primeiro livro, intitulado “Tarde Demais Para Acreditar No Amor” (2013). Atualmente, ele já escreveu outras quatro obras e vive da literatura, contando com uma editora própria. Milhan afirma que nunca pensou em escrever um livro, pois acreditava que isso era algo fora de seu alcance.
Em Vila Velha, no Espírito Santo, a Vara de Execuções Penais do Tribunal de Justiça do estado também desenvolve projetos ligados ao esporte e à cultura. O projeto Correndo Para Vencer, idealizado pela juíza Patrícia Faroni, de 50 anos, incentiva a prática de corridas de rua por detentos e ex-detentos, contribuindo para a remição de pena.
Segundo Faroni, são realizados treinos e trilhas internas, promovendo um ambiente acolhedor. Detentos, agentes penitenciários e policiais reformados correm juntos, formando uma verdadeira família e promovendo a sensação de pertencimento. Os treinos ocorrem às segundas e quintas-feiras, e as saídas dos detentos para participar das corridas são autorizadas pela Justiça.
Os detentos passam por exames cardiológicos e físicos antes de ingressar no projeto. Além disso, participam de corridas de rua do calendário esportivo estadual. O custo das inscrições e materiais esportivos é coberto por meio de doações. As famílias também colaboram confeccionando camisas e faixas, além de recepcionarem os corredores na linha de chegada. A Vara de Execuções Penais estima que aproximadamente cem pessoas já tenham participado do projeto.
Em 26 de março, foi realizada a primeira corrida de rua oficial do projeto, intitulada Correndo Para Vencer 2023. Eder Sabino, de 40 anos, e Severino Soares, de 39 anos, que estão em regime semiaberto, participaram da competição. Ambos conseguiram bolsas para estudar educação física e farmácia, respectivamente, em uma universidade privada.
Para Sabino, correr tem contribuído para melhorar sua qualidade de vida e sua reintegração social. Ele afirma que sempre gostou de esportes e voltou a amá-los, especialmente porque é professor de capoeira. Além disso, o projeto proporcionou contato com a natureza durante os treinos, fazendo com que enxergasse a vida de outra forma. Sabino nunca imaginou que o esporte pudesse abrir portas para ele trabalhar nessa área.
Soares, por sua vez, teve contato com o esporte por ter jogado futebol quando era mais jovem. Ao ser convidado para o projeto, inicialmente duvidou de sua própria capacidade. No entanto, ele evoluiu e se apaixonou pela corrida. Atualmente, sente falta dos treinos quando não os realiza.
Além do projeto Correndo Para Vencer, a juíza Patrícia Faroni comanda outro projeto chamado Tocando em Frente, que envolve uma banda musical composta por pessoas encarceradas. O grupo é reconhecido na comunidade de Vila Velha e já se apresentou em formaturas, seminários em universidades e congressos da OAB.
A Fundação Casa, em São Paulo, é outra instituição que promove projetos de ressocialização para menores infratores. Segundo Carlos Alberto Robles, de 59 anos, superintendente pedagógico da entidade, há um calendário esportivo e artístico anual na instituição, com integração entre as áreas de educação física, cultura, ensino e educação profissional.
Anteriormente, a Fundação Casa se focava principalmente em esportes como basquete, vôlei, futebol e handebol. Atualmente, também são realizados festivais de dança, competições de dama e xadrez, festivais de skate, ginástica e basquete 3×3. Em 4 de julho, foi realizada uma competição de futebol feminino em homenagem à Copa do Mundo da modalidade, disputada entre julho e agosto na Austrália e na Nova Zelândia.
O trabalho desenvolvido por esses projetos demonstra a importância das atividades esportivas e artísticas na ressocialização de pessoas presas, contribuindo para sua reinserção na sociedade e para a redução da reincidência criminal. Essas iniciativas ajudam a criar ambientes acolhedores, proporcionam benefícios físicos e sociais, além de desenvolverem habilidades e paixões que podem abrir portas para novas oportunidades de vida.