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Kafka: o poeta do absurdo e a engrenagem humana na sociedade de massa moderna





“Prezado Senhor: o senhor me fez muito infeliz. Comprei a sua Metamorfose e a presenteei à minha prima. Mas ela não sabe como explicar a história. Minha prima a deu à mãe dela, que também não encontra explicação. Só o senhor pode me ajudar. O senhor tem que me ajudar, pois foi quem me meteu nisso. Portanto, me diga o que a minha prima deve pensar da Metamorfose.”

O ser humano como engrenagem

Por que Kafka escrevia de forma assim tão soturna, submetendo suas personagens a situações que não ocorrem na realidade, pelo menos no sentido literal? Pois essa foi uma opção que também lhe dificultou a trajetória, impedindo que, ainda em vida, ele se tornasse um escritor aclamado pelo público.

O germanista Thomas Anz, docente da Universidade de Marburg e autor de um estudo sobre a vida e obra de Franz Kafka (1883-1924), o considera um fantástico poeta do absurdo. Sua literatura introvertida, cifrada, é, possivelmente, o equivalente formal a todas as repartições jurídicas e homens honoráveis com que suas personagens se confrontam.

Isso, prossegue Anz, aplica-se em especial às instâncias estatais, como as descritas no romance O processo, ou, em versão ainda mais implacável, no conto A colônia penal – ambos textos que refletem a impotência do indivíduo diante de poderes anônimos.

Um tribunal civil no primeiro caso, uma corte militar, no segundo, levantam imputações totalmente arbitrárias, cuja verdadeira motivação o acusado não consegue sequer vislumbrar. Por que os réus se tornaram culpados? Eles não sabem. Tal situação de indefensibilidade, uma vivência central nas sociedades de massa modernas, é o que se denomina “kafkiana”.


O renomado escritor e poeta Franz Kafka tem sido motivo de controvérsias e debates acalorados entre críticos literários e estudiosos de sua obra. Sua abordagem sombria e surrealista trouxe à tona questões profundas sobre a natureza humana e a sociedade em que vivemos.

Ao receber uma carta de um leitor insatisfeito com a obra “Metamorfose”, Kafka se viu confrontado com a dificuldade de explicar o inexplicável. A narrativa em questão retrata a transformação de um homem em inseto e a reação de sua família diante dessa situação inusitada. A falta de respostas concretas na obra levanta questionamentos sobre o papel do ser humano no mundo e sua relação com o absurdo.

Segundo o professor Thomas Anz, especialista em estudos kafkianos, a escrita de Kafka reflete a impotência do indivíduo diante de estruturas opressivas e impessoais. Seus personagens se veem enredados em situações inescapáveis, confrontando poderes desconhecidos e arbitrários.

O romance “O Processo” e o conto “A Colônia Penal” são exemplos claros desse confronto entre o indivíduo e o sistema. As acusações sem fundamento, as imputações arbitrárias e a ausência de sentido são elementos recorrentes na obra de Kafka, que lança luz sobre a condição humana em um mundo cada vez mais burocrático e desumano.

Assim, a literatura de Kafka se torna um espelho distorcido de nossa própria existência, nos confrontando com nossos medos mais profundos e nossas incertezas mais angustiantes. O que a princípio pode parecer absurdo e irracional, revela-se, na verdade, uma reflexão profunda sobre a natureza complexa e muitas vezes contraditória do ser humano.

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