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Praças flutuantes: do século XIV ao futuro – Uma reflexão sobre os desafios urbanos e arquitetônicos em cidades como Nova York e Rio de Janeiro.







Artigo sobre Praças Flutuantes

Praças Flutuantes: Um Olhar Sobre a História e O Futuro das Cidades

No início do século XIV, muito antes da ocupação predatória da América pelo branco europeu, o povo asteca fundou a capital de seu império, Tenochtitlán, em uma ilha do Lago Texcoco, no Vale do México, a mais de dois mil metros de altitude.

Com o tempo, tornou-se uma cidade densamente povoada, com arquitetura de pedra e barro para construção de seus templos, palácios, pirâmides, edificações para atender diferentes funções.

Estima-se que, pouco antes da chegada do europeu, em 1492, a capital abrigava cerca de 200 mil habitantes que necessitavam de alimentação, além de outros serviços que eram oferecidos.

Entre tantas iniciativas que demonstram o alto nível civilizatório do povo asteca, foram implantadas as chinampas, praças flutuantes cultiváveis, ampliando a área urbana com terra altamente produtiva.

Na prática, tratava-se da criação de um cercado de juncos, fincados no solo alagado, possibilitando a formação de ilhas artificiais através do preenchimento da trama vegetal com terra e material orgânico. Essa formação, semelhante às ilhas flutuantes de Uros, no Peru, era ancorada com árvores maiores dispostas em seu entorno, evitando o deslocamento do solo e da própria área criada.

Além de um terreno fértil pela adubação natural, ainda permitia a construção de pequenas moradias para os agricultores, estreitando a relação homem-natureza, adotando princípios básicos de sustentabilidade, sem sequer conhecer conceitos estabelecidos por civilizações posteriores para atenuar suas atitudes predatórias.

Chinampas astecas, século XIV (dom. público)

Quase sete séculos depois, em 21 de maio de 2021, a cidade considerada o grande ícone dos tempos modernos, a Big Apple desde a década de 1920, New York assistiu à inauguração de um novo ponto turístico: o parque Little Island, espaço público implantado no Pier 55, numa ilha artificial, localizado no Rio Hudson, a oeste de Manhattan.

O conjunto edificado, projetado pelo Heatherwick Studio, está apoiado em 132 tulipas de concreto ancorados no fundo do rio e ligado à ilha principal por uma grande ponte.

A área proporciona belas visadas da área urbana, com mirantes distribuídos entre diferentes espécies da flora, anfiteatro para cerca de 700 espectadores e uma praça central para reunião, descanso e alimentação.

Proposta do Parque Little Island em Nova York

O escritório Carlo Ratii Associati apresentou, em 2016, a proposta para uma praça pública flutuante na lagoa Lake Worth, na Florida, a ser construída com alta tecnologia. A iniciativa integra a proposta de recuperação daquela região.

Proposta de praça flutuante na lagoa Lake Worth, Florida

No último fim de semana a população carioca foi surpreendida com uma declaração da Prefeitura sobre a criação do Parque do Porto, comparado pelo próprio prefeito com o Parque do Flamengo, notável criação de profissionais como Roberto Burle Marx e Affonso Eduardo Reidy, entre outros, surgido por outras demandas, em outro contexto.

A precipitação no anúncio da proposta, talvez esteja, outra vez, associada à proximidade eleitoral. Assim surgiram algumas outras iniciativas, de vários governantes, que não foram bem-sucedidas ou sequer iniciadas depois do resultado das urnas, não apenas no Rio de Janeiro ou no Brasil.

Experiências aprendidas em Columbia, Harvard ou outras universidades americanas podem ser sopradas nos ouvidos dos governantes por seus auxiliares, mas é necessário discernimento para aplicá-las em seus respectivos contextos.

Afinal, jazz não é samba, cariocas não são astecas e o Rio não é Nova Iorque!

Proposta do Parque do Porto no Rio de Janeiro

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