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Governador polêmico deixa população de Porto Alegre sem chance de avaliar seu trabalho durante enchentes e gera críticas sobre democracia.




Artigo Jornalístico

O tribunal descartou de pronto o adiamento. Insisto na ruindade do argumento: em momento de reconstrução, nada de eleição? Entendi. Ele não quer dar à população de Porto Alegre, por exemplo, a chance de ao menos avaliar o trabalho do prefeito Sebastião Melo (MDB). Parece que temos uma nova tese: democracia não combina com enchente; só serve com sol e céu azul.

É uma aberração. Se não se puder assegurar a segurança do pleito, é evidente que se há de pensar o caminho jurídico para o adiamento, mas isso ainda não está dado. Abrir esse precedente significa piscar para outras situações de exceção em que se pediria licença para descumprir a Constituição.

A biruta de Leite está torta. Sua resposta sobre a existência de uma autoridade federal e sobre a mobilização brutal de recursos do governo federal indica que é ele a politizar a tragédia, não seus adversários. Reparem:
“Por uma decisão que a sociedade tomou, pelo voto popular. Então, o que o ministério que o presidente Lula criou tem no nome, e entendo deva ser o que orienta a sua ação: é uma secretaria extraordinária para apoio à reconstrução. Todo apoio é bem-vindo. O apoio do setor privado, o apoio dos voluntários, o apoio das doações, o apoio da sociedade civil de diversas formas, o apoio do governo federal é bastante importante nesse processo.
O meu papel como governador não é o de fazer análises políticas, é de resolver o problema. Para resolver o problema, precisamos juntar as forças de todos, inclusive a do governo federal. O presidente apresentou o seu preposto para esta missão de apoiar a reconstrução, vamos trabalhar com ele, vamos juntar as forças para poder atender a população.”

Parece piada, mas o “inclusive” de sua resposta, que é o governo federal, responde por mais de 80% da mobilização de recursos e dos desembolsos futuros já contratados. Lula nunca disse que iria intervir no Estado. Mas, se a fala do governador estivesse certa e se sua gramática espelhasse os fatos, a ajuda federal seria apenas mais uma entre muitas, de sorte que tanto faria, no que respeita a perdas, os voluntários voltarem para a casa ou o Planalto pôr fim a seus programas. Uma resposta que traz tal implicação está estupidamente errada e atende apenas a um viés político.

Afirmar que o presidente apresentou o seu “preposto” é coisa de gente malcriada. Leite tem a legitimidade que lhe confere o povo gaúcho para responder aos desafios dados. Lula tem a legitimidade que lhe confere o povo brasileiro para mobilizar a montanha de bilhões para reconstruir o Estado.

O governador não se sai melhor quando trata das questões ambientais. Então não havia os estudos? Ele manda brasa:
“Bom, você tem esses estudos, eles de alguma forma alertam, mas o governo também vive outras pautas e agendas. A gente entra aqui no governo e o estado estava sem conseguir pagar salário, sem conseguir pagar hospitais, sem conseguir pagar os municípios.
A agenda que se impunha ao estado era aquela especialmente aquela vinculada ao restabelecimento da capacidade fiscal do estado para poder trabalhar nas pautas básicas de prestação de serviços à sociedade gaúcha.
Cumprimos essa tarefa, porque agora estamos diante dessa crise enorme com capacidade fiscal para enfrentá-la.”


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