
O Pretuguês, a Língua Falada no Brasil
A linguista e ativista Lélia Gonzalez, em uma intervenção na Anpocs em 1984, questionou a forma como as pessoas gozam os falantes do português brasileiro, chamando atenção para as raízes africanas presentes na língua. Ela mencionou que a troca de ‘R’ pelo ‘L’ em palavras como “Framengo” é uma característica linguística de idiomas africanos onde o ‘L’ não existe, questionando quem seria o verdadeiro ignorante nesse contexto.
Yeda Pessoa de Castro, etnolinguista, tem destacado a presença de línguas africanas, especialmente do tronco linguístico banto, no português falado no Brasil. Ela aponta palavras como “bunda”, “samba”, “moqueca” e muitas outras como provenientes dessas línguas africanas, demonstrando a influência significativa dessas raízes na língua nacional.
Além do léxico, Castro também destaca diferenças na fonologia e na sintaxe do pretuguês em relação ao português de Portugal, evidenciando a riqueza e diversidade linguística presentes no Brasil. A presença dessas influências africanas no idioma nacional remonta ao período da escravidão, quando milhões de africanos foram trazidos para o país, trazendo consigo suas línguas, memórias e saberes.
Apesar disso, ainda existe resistência em reconhecer o pretuguês como uma forma legítima de expressão e comunicação. O epistemicídio, termo cunhado por Sueli Carneiro, que se refere à negação do conhecimento e das condições para produzi-lo, tem sido denunciado há décadas e confrontado em diferentes esferas.
Para ampliar o debate sobre a diversidade linguística brasileira, a autora Patrícia Lino lançou o livro “O Kit de Sobrevivência do Descobridor Português no Mundo Anticolonial”, que explora de forma criativa e crítica a relação entre o português e as línguas locais. Este livro é um convite a refletir sobre as raízes culturais e linguísticas do Brasil e a valorizar a diversidade presente na nossa língua.