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Batalha histórica na Cidade Maravilhosa: a rivalidade entre Barra da Tijuca e Zona Sul do Rio de Janeiro




Batalha de Gigantes: Entenda a ‘rivalidade’ entre Barra e Zona Sul

No mosaico urbano do Rio, a rivalidade entre bairros é uma tradição mais carioca quanto o samba e o futebol. Embora debates acalorados sobre “Méier X Tijuca” tenham seu espaço na Zona Norte, nenhuma disputa é tão emblemática quanto a que envolve as nobres regiões da Zona Sul e a polêmica Barra da Tijuca.

Para entendermos a rivalidade, é necessário mergulharmos nas origens dessas duas regiões. A Zona Sul, berço da aristocracia carioca, é um legado das tradições imperiais da cidade. Bairros como Catete, Glória, Flamengo e Botafogo, além do antigo vale do Rio Carioca, o que hoje conhecemos como Laranjeiras e Cosme Velho, têm suas raízes relacionadas aos primeiros anos da urbanização do Rio de Janeiro, quando a nobreza carioca buscava refúgio nas mansões e palacetes mais distantes do conturbado Centro do Rio, que antes concentrava essa população na região da Lapa. O boom imobiliário de Copacabana, no início do século XX, marcou um ponto de virada da Zona Sul, transformando a antiga vila de pescadores em um dos destinos mais cobiçados da elite carioca e internacional.

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Rua São Clemente, em Botafogo – Foto: Reprodução

A verticalização do bairro, no final da década de 20, foi impulsionado pela construção do Copacabana Palace. Os primeiros arranha-céus foram erguidos nas proximidades do hotel e da Praça da Lido, como os edifícios Ribeiro Moreira e Petrônio, em estilo art-decó. Morar em um prédio precisava ser ressignificado pela elite, que associava moradias assim aos antigos cortiços e pensões, por isso, os grandes apartamentos lembravam mais palacetes, com suas varandas espaçosas, pé direito alto, plantas vantajosas, hall de entrada imponente, além de vistas deslumbrantes, atraindo as elites políticas, intelectuais e artísticas do país. Os prédios foram projetados para não deixar a desejar em nada em relação a uma casa.

É importante destacar que morar à beira-mar não tinha o prestígio atualmente reconhecido. Anteriormente, o litoral frequentemente era vinculado ao Porto do Rio e às atividades comerciais, incluindo as comunidades de pescadores. Essa percepção começa a mudar com a ascensão de Copacabana.

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Praça do Lido com Edifício Ribeiro Moreira ao fundo – Foto: Reprodução
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Hall do Edifício Ribeiro Moreira, em Copacabana – Foto: Rafael Bokor

O boom na construção civil foi rápido; até meados da década de 1950, o bairro já se apresentava praticamente consolidado. A noção de exclusividade associada aos grandes apartamentos foi gradualmente “esquecida” com a popularização de Copacabana. Com isso, cada pedaço de terra disponível se transformava em um prédio de apartamentos, conhecidos à época como “JK” (Janela-Kitnet), hoje comercializados como “studios”. O progresso urbanístico avançava rapidamente por Ipanema, Leblon, Gávea e Jardim Botânico, até que, ao final da década de 1960, a Zona Sul se via com um solo urbano saturado.

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Copacabana na década de 60 – Foto: Reprodução

A urbanização desses bairros é parecida e ocorreu antes do planejamento de Brasília, em 1957. Caracterizadas por vias amplamente arborizadas, facilidade de locomoção a pé e uma marcante ausência de recuos entre as edificações e a calçada, essas áreas se destacam pela mistura de atividades e pela ocupação relativamente intensiva do solo. Não é à toa que estão entre os espaços urbanos mais valorizados e caminháveis do Brasil.

Por outro lado, a Barra da Tijuca, distante geograficamente e culturalmente da Zona Sul, emergiu como um contraponto à tradição e ao conservadorismo da região. Projetada na década de 1970 pelo arquiteto Lúcio Costa, famoso por seu trabalho em Brasília, a Barra foi concebida como uma utopia urbana, um refúgio para aqueles que buscavam uma vida mais tranquila e espaçosa longe da agitação da Zona Sul.

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Avenida das Américas, na Barra da Tijuca, no início de sua urbanização – Foto: Reprodução

O bairro, inicialmente visto como uma aposta arriscada e até mesmo utópica, rapidamente se transformou em um dos mais prósperos e dinâmicos da cidade. A chegada da Autoestrada Lagoa-Barra, na década de 1970, abriu caminho para o desenvolvimento da região, atraindo investimentos imobiliários e empresariais. O Barra Shopping, inaugurado em 1981, foi um marco nesse processo, transformando a Barra em um polo de compras e entretenimento.

A expansão do bairro, no entanto, não se deu sem controvérsias. O urbanismo modernista de Lúcio Costa, com suas amplas avenidas e prédios isolados, é frequentemente criticado por sua falta de humanidade e calor humano. A Barra, com seus condomínios fechados e espaços públicos escassos, é muitas vezes acusada de ser uma “cidade sem alma carioca”, uma mera coleção de edifícios e shoppings centers sem identidade e arquitetura própria. E, ironicamente, os primeiros condomínios residenciais receberam nomes como “Novo Leblon” e “Nova Ipanema”.

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Construção do Condomínio Nova Ipanema, na década de 70 – Foto: Reprodução

Rivalidade de egos

Essa rivalidade entre Barra e Zona Sul é alimentada não apenas pela geografia e arquitetura, mas também por diferenças sociais e culturais. Enquanto a Zona Sul é vista como a roda da elite tradicional e “de berço”, a Bar

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