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A ligação entre saúde mental e criação literária é explorada por diversos autores em obras recentes

Outros escritores também abordam a relação entre criatividade e saúde mental: a espanhola Rosa Montero acaba de publicar “O Perigo de Estar Lúcida”, um amplo panorama histórico sobre a ligação entre a criatividade e a loucura, incluindo estudos de casos reais. Por exemplo, um estudo da Universidade de Iowa, nos Estados Unidos, aponta que escritores têm três vezes mais chances de sofrer de depressão e quatro vezes mais probabilidade de ter transtorno bipolar.

Já o sociólogo britânico Andrew Scull lança “Loucura na Civilização”, que reflete sobre como a arte passou a lidar com a representação da insanidade. Além disso, há autores dedicados a falar em primeira pessoa de seus transtornos mentais como Emmanuel Carrère, Wendy Mitchell e Esme Wang.

Trazida recentemente ao público brasileiro, “Fim de Poema” narra sobre Anne Sexton. Num livro curto e engenhoso, o autor Juan Tallón ilumina, pela via da ficção, a “caixa preta” por trás do suicídio de quatro grandes poetas: Alejandra Pizarnik, Cesare Pavese e Gabriel Ferrater. Ele afirma: “O escritor é alguém que faz um esforço extraordinário para comunicar algo que é, quiçá, incomunicável”.

Para Maria Homem, psicanalista e doutora em teoria literária e literatura comparada, a condição psiquiátrica de um autor é fundamental para compreender sua obra. A inversão proposta por Maria, também revela que a criação de algo radicalmente novo está relacionada à desconstrução do mundo conhecido, uma tarefa que pode ser dolorosa e perigosa.

Em entrevista por vídeo, a filha de Anne Sexton, Linda Gray Sexton, revela que sua mãe não escrevia apenas sobre sua doença, mas sobre sua vida. Ela esperava ajudar pessoas que sofressem de enfermidades mentais e, segundo sua filha, escrevia sobre assuntos variados, como arrebatamento romântico, sexualidade e sensibilidade materna.

Linda Gray Sexton também critica a tendência de editoras em enfocarem o lado obscuro de Anne Sexton e ignorarem seus poemas mais luminosos, limitando a visão do público sobre a grandiosidade da poeta. Assim, o legado de Anne Sexton é muito mais do que apenas o retrato de uma mulher atormentada, mas sim um rico e multifacetado conjunto de expressões literárias.

Tal como acontece com Anne Sexton, a maioria dos escritores e artistas são pessoas que atravessam problemas de ordem psíquica; no entanto, tal fato não diminui a grandiosidade de suas obras. A arte é uma forma de compreender e, de certa forma, suavizar as angústias e os desafios da vida.

Assim, é fundamental ponderar sobre a complexidade das obras e dos escritores, indo além das trivialidades e dos estereótipos limitantes que são atribuídos às suas criações literárias./

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