Relatório da Fenaj aponta redução de 51,86% na violência contra jornalistas em 2023, mas alerta para tendências preocupantes.
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De acordo com a presidenta da Fenaj, Samira de Castro, mudanças em dois tipos de agressão foram cruciais para a redução no número total de casos. Ela explicou que a categoria “descredibilização da imprensa”, estratégia adotada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro durante o seu governo, teve uma queda de 91,95% em relação ao ano anterior. Além disso, houve uma redução significativa na censura, atribuída à mudança no comando da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), que era um foco de censura contra o trabalho dos jornalistas.
O relatório revela que, entre 2019 e 2022, o ex-presidente foi responsável por 570 ataques contra veículos de comunicação e jornalistas, o que representa uma média de 142,5 agressões por ano. A Fenaj destaca que os números refletem uma violência institucionalizada, com uma agressão a cada dois dias e meio ao longo do período considerado. O relatório também aponta um aumento no número de ações judiciais visando cercear a liberdade de imprensa, bem como ataques contra sindicatos e sindicalistas.
Ao analisar os principais agressores, a Fenaj destaca que políticos, assessores e parentes lideram a lista, seguidos por manifestantes de extrema-direita, populares, policiais civis e militares, e dirigentes, jogadores e torcedores de futebol. Em relação aos tipos de mídia e veículos onde as agressões foram registradas, a televisão e a mídia digital são as mais impactadas.
Quando se trata de gênero, o relatório revela uma disparidade significativa entre homens e mulheres, com 179 casos envolvendo jornalistas do sexo masculino, 66 do sexo feminino e 17 não identificados. Samira de Castro ressalta, no entanto, que o relatório não leva em conta o assédio sexual e moral, que são formas de violência cotidianas para as mulheres jornalistas, e que muitas vezes não têm o objetivo de impedir a circulação livre da informação jornalística.
A violência contra jornalistas também afeta de forma desigual diferentes regiões do país. A região Sudeste lidera o ranking de casos, seguida pelo Nordeste, Centro-Oeste, Sul e Norte. Os estados com mais incidência de agressões são Distrito Federal, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.
Samira de Castro enfatiza que a violência contra jornalistas é um ataque à democracia e destaca o episódio ocorrido em 8 de janeiro, em que dezenas de jornalistas foram agredidos em Brasília, como um exemplo da tentativa de calar a imprensa. A Fenaj alerta para a necessidade de combater esse tipo de violência e reforça a importância da liberdade de imprensa para a manutenção da democracia no país.