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Aeroporto de X perde tampa de porta em pleno voo e gera pânico; ações da Boeing despencam. CEO assume culpa.




Boeing assume a culpa por acidente em pleno voo

Boeing assume a culpa por acidente em pleno voo

As imagens de um avião perdendo o tampão da porta em pleno voo viralizaram nas redes sociais e ganharam as manchetes ao redor do mundo. As cenas lembram os filmes de ação, mas tornam-se aterrorizantes por terem se passado na vida real, nos Estados Unidos, no dia 5, em uma aeronave da Boeing operada pela Alaska Airlines.

As buscas pelo termo “Boeing” no Google explodiram e atingiram o seu terceiro pico da história. Maior que o burburinho atual, só quando, em março de 2019, outro avião da empresa caiu, na Etiópia, e matou 157 ocupantes. Ou em outubro de 2018, quando um acidente matou 188 pessoas, na Indonésia. Nos três eventos, o modelo era um Boeing 737 Max. Na África e no Sudeste Asiático, um Max 8. Nos EUA, um Max 9.

Na contramão do volume de buscas no Google, as ações da empresa despencaram. Foram mais de 12% de queda na Bolsa de Nova York (NYSE) desde o dia 5. No caso de 2019, o tombo das ações nos dias seguintes ao acidente foi semelhante. Em 2018, um pouco menor, de cerca de 8%.

Sem aquela bobagem estilo “coach” de querer tirar boas lições das tragédias, o que tem chamado a atenção de maneira positiva no caso mais recente é a reação da empresa. Enquanto nos casos anteriores a Boeing ficou num jogo de empurra-empurra em relação aos responsáveis, dessa vez fez questão de assumir rápida e publicamente a culpa.

O atual CEO da empresa, David Calhoun, disse, na terça-feira (9), que a empresa reconhece o próprio erro e que a investigação sobre as falhas nas aeronaves será feita “com total transparência em cada etapa do processo”.

Trata-se de uma mudança significativa na transparência e no endereçamento da responsabilidade. Calhoun não estava no cargo quando aconteceram os acidentes fatais na África e na Ásia. Em 2020, entretanto, após assumir o posto, chegou a dizer ao jornal The New York Times que os pilotos da Etiópia e da Indonésia não eram “tão experientes” quanto os dos EUA, dando a entender que a culpa pelas mortes era também deles. O tempo e a pressão pública fizeram bem à sua postura.

Reconhecer o erro “é o mínimo”, você pode pensar. Mas estamos tão acostumados ao cinismo corporativo que essa migalha torna-se um bom exemplo.

A Braskem, por sua vez, fez acordos e tem pagado indenizações para pessoas afetadas pelo afundamento do solo em Maceió, decorrente de sua atividade de mineração no local. Entretanto, seus comunicados oficiais sobre o tema se escoram em eufemismos para dizer que as pessoas foram atingidas pela “subsidência” ou por “abalo sísmico”, como se fosse culpa da natureza não suportar a extração mineral no terreno.

No Rio de Janeiro, a Light, concessionária de energia, distribui calotes e incertezas para quem investiu em suas debêntures, alegando que precisa reestruturar suas finanças, pois perdera muito dinheiro com o furto de energia elétrica —o popular gato. Da noite para o dia, notou a falta de R$ 11 bilhões para arcar com suas dívidas. Como se, na emissão das debêntures, menos de dois anos antes, não fosse possível vislumbrar os problemas.

Infelizmente, esses são apenas alguns exemplos de “falhas sem culpados” que vemos por aqui. Se tiverem chance, jogam a responsabilidade para a “mão invisível do mercado”.

Vale lembrar que, além do bom senso, exigir transparência para quem quer atrair investidores, os administradores da companhia aberta são obrigados por lei a divulgar qualquer fato relevante ocorrido nos seus negócios que possa mexer com o preço das ações.

Ver uma empresa do tamanho da Boeing assumir a culpa e as rédeas por um problema grave é um bom sinal para quem busca um mercado mais sólido e sério, com as melhores práticas de accountability ganhando protagonismo.


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