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Disputa por terra eólica no Rio Grande do Norte
Um impasse envolvendo a empresa Neoenergia e famílias do Projeto de Assentamento Canto da Ilha de Cima, em São Miguel do Gostoso, no Rio Grande do Norte, tem gerado debate e desconfiança. Desde 2018, as famílias do assentamento receberam uma proposta para arrendar integralmente os 2.238 hectares do local para a construção de um parque eólico a ser administrado pela empresa. A proposta inclui o pagamento de R$ 1.200 por ano para cada família durante o período de construção, além de uma parcela referente à produção energética. No entanto, nem todos os residentes estão de acordo com os termos oferecidos.
Segundo relatos, das 89 famílias que vivem na comunidade, apenas 19 estariam inclinadas a aceitar a proposta da Neoenergia. A principal preocupação está relacionada à perda da capacidade de produção de alimentos, uma vez que teriam que deixar de cultivar mandioca, caju, milho, couve e criar frangos, entre outros cultivos e criações. Além disso, as famílias demonstram desconfiança em relação aos valores a serem pagos e ao cumprimento das promessas feitas pela empresa.
De acordo com Santos, um dos integrantes da comunidade, o pagamento proposto pela Neoenergia corresponde a apenas R$ 100 por mês, o que não seria suficiente para cobrir as despesas com energia elétrica. Além disso, a incerteza em relação aos valores a serem recebidos com a produção energética também é motivo de preocupação. O desconhecimento dos detalhes dos acordos assinados e a falta de cumprimento das promessas feitas pelas empresas do setor eólico são citados como motivos de decepção por parte dos agricultores do Rio Grande do Norte.
Para Ferreira, outro morador da comunidade, a promessa de título definitivo da terra feita pela Neoenergia levanta questionamentos, visto que esta atribuição é de responsabilidade do Incra, e não de uma empresa de energia eólica. A desconfiança em relação às propostas oferecidas pela empresa é justificada, considerando experiências anteriores onde os valores pagos não correspondiam às expectativas e as promessas não eram cumpridas.
Diante deste cenário, a comunidade se vê diante de um dilema que envolve questões financeiras, alimentares e de segurança. O impasse destaca a complexidade das relações entre as empresas do setor eólico e as comunidades rurais, ressaltando a necessidade de diálogo e transparência em negociações que impactam diretamente a vida das pessoas.