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Lixo volta a poluir o rio Pinheiros um ano após comemoração da despoluição pela Sabesp, causando mau cheiro e degradação.




Despoluição do Rio Pinheiros

Um ano após a Sabesp comemorar a despoluição do rio Pinheiros, montes de lixo voltaram a flutuar na superfície e ocupar as margens. Garrafas plásticas, caixas de isopor, latas, pneus, móveis e outros tipos de lixo doméstico apareceram nos últimos dias em meio a manchas de óleo, detritos em decomposição e um forte mau cheiro.

A paisagem, que vinha melhorando gradativamente desde 2019 com as ações de despoluição do Programa Novo Rio Pinheiros, voltou a apresentar a degradação que deixou o Pinheiros marcado como um dos rios mais poluídos do bioma Mata Atlântica por cerca de 4 décadas.

O Governo do Estado de São Paulo, responsável pela manutenção do rio e seu entorno, disse através de nota da Semil (Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística) que as alterações observadas na água e na margem podem ter sido causadas pelo período chuvoso, que normalmente acarreta em um maior volume de lixo escoado.

A nota também destaca que desde 2019 mais de 650 mil imóveis que jogavam esgoto no rio Pinheiros foram conectados à rede de tratamento da Sabesp, e que o Programa Novo Rio Pinheiros, assim como o Projeto Tietê e o Programa Renasce Tietê, foram incorporados ao Programa Integra Tietê, lançado em março com investimento previsto de R$ 5,6 bilhões em tratamento de esgoto, ações de desassoreamento e melhoria no sistema de monitoramento da qualidade da água até 2026.

Frequentadores da ciclovia Franco Montoro e do Parque Linear Bruno Covas, ambos localizados nas margens do Pinheiros, têm notado as alterações de perto. O engenheiro Desio Vieira da Silva Junior, que frequenta a ciclovia da margem leste há mais de dez anos, disse que percebeu uma diminuição na circulação das balsas de desassoreamento e também uma diminuição do trabalho de limpeza das margens. “O cheiro voltou a ser como era antes da despoluição”, comentou.

A fisioterapeuta Cristiane do Prado pedala na região há cinco meses. “Nesse período deu para sentir uma piora na sujeira e no cheiro, e tem também o problema da obra, que interditou grande parte da ciclovia”, disse ao se referir ao trabalho de contenção das margens, que acontece em paralelo ao programa Integra Tietê e que já fez ambientalistas questionarem a obra pelo impacto causado na manutenção da fauna local.

Renan Issa Farah Geraldo é mecânico da ciclovia e observou um aumento da fauna desde que o rio começou a ser despoluído. “Aqui tem muita capivara, quero-quero, preá, e por incrível que pareça, muito peixe”.

Em visita aos parques que margeiam o rio, o Ciclocosmo observou e fotografou ao menos 10 espécies animais presentes na margem e nas águas do rio Pinheiros. Além das famosas capivaras, que viraram mascotes da ciclovia da margem leste, e das centenas de aves, ao menos três espécies de peixes foram vistas na foz do córrego das Corujas, na altura do bairro de Pinheiros (zona oeste da cidade de São Paulo).

Ao analisar as imagens, o biólogo Eduardo Bessa, professor de zoologia da Universidade de Brasília, identificou que o cardume maior, que aparentemente tinha mais de uma centena de peixes, era formado por tilápias de 30 centímetros. Ele também identificou três cascudos, com cerca de 30 centímetros, mas teve que pedir ajuda aos colegas Fábio Di Dário e João Luiz Gasparini para não errar na verificação do peixe maior, que media aproximadamente um metro e se destacava pela coloração vermelha: era um bagre africano, que assim como a tilápia, é um peixe exótico (não faz parte da fauna brasileira) considerado impacto ambiental por causar prejuízo às espécies nativas.

“Fica claro que o cardume estava ali naquele ponto, na foz de um córrego menos poluído, em busca de uma água que não fosse tão hipoxia (baixa em oxigênio) quanto a água do rio Pinheiros. Mesmo assim todos os peixes estavam buscando ar na superfície, o que indica que o rio Pinheiros está mesmo paupérrimo em oxigênio”, disse Bessa.


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