
Na região de Guaíra, no Paraná, indígenas do povo avá-guarani relataram terem sofrido ataques brutais com armas de fogo, tortura de cachorros e estão suspeitando da atuação de milícias armadas. Os fatos foram comunicados à Funai e ao Ministério dos Povos Indígenas através de ofícios. As denúncias, confirmadas por agentes envolvidos nas investigações e divulgadas pela Folha, aconteceram nos dias 23 e 24 de dezembro, no território Tekoha Guasu Guavirá, onde os indígenas vivem em condições precárias, com falta de demarcação de território e segurança.
As informações levam as autoridades a investigarem a existência de uma possível milícia privada, responsável pelos ataques. Diante desses fatos, os indígenas pedem a intervenção do Ministério da Justiça para envio da Força Nacional, a fim de reforçar a segurança na região. No entanto, tanto a PF quanto a Funai não se pronunciaram a respeito.
Não é a primeira vez que os indígenas avá-guarani enfrentam situações desoladoras. A região, que também está em disputa por indenizações pela construção da usina de Itaipu, tem sido alvo de violência, conflitos com fazendeiros e relatos de desassistência e sofrimento durante a pandemia do coronavírus. Segundo eles, a situação piorou consideravelmente durante o governo de Jair Bolsonaro, trazendo consequências devastadoras para a comunidade.
Documentos entregues à sub-secretária-geral da ONU destacaram a grave situação de desamparo, fome e desespero que os indígenas enfrentam, agravada pelos suicídios de jovens. Além disso, a falta de regularização da terra tem prejudicado a qualidade de vida, com falta de espaço para plantar, condições precárias de moradia e contaminação da água devido ao uso de agrotóxicos nas lavouras da região.
Nesse cenário, os ataques sofridos durante a véspera de Natal geraram pavor e indignação na comunidade. Houve tiroteios, incêndios criminosos de barracos, agressões físicas, roubo de pertences e tortura e morte de animais. A situação foi ainda mais grave quando a Polícia Federal alertou a comunidade sobre a possível contaminação da água utilizada, indicando que o grupo que realizou os ataques possa ter colocado em prática ameaças contra os indígenas.
Mensagens contendo ameaças de “meter vala” nos indígenas e “contaminar a água” também foram divulgadas, gerando um clima de tensão e medo na comunidade. Até o momento, as autoridades não identificaram a autoria dos ataques nem a participação de fazendeiros da região, mas suspeitas sobre uma possível milícia estão em investigação.
Com todo esse histórico de violência e desamparo, a demarcação do território tem sido uma luta constante para os indígenas. A área do território Tekoha Guasu Guavirá possui delimitação, mas ainda espera pela portaria declaratória. Em 2020, a Funai, sob a gestão de Marcelo Xavier, editou uma portaria que afetou o processo de demarcação, mas foi suspensa em abril deste ano na gestão de Joenia Wapichana.