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Brasil: Marco Temporal e a Luta pelos Direitos Indígenas em Meio à Seca na Amazônia

Em um ano marcado pela seca na Amazônia, com temperaturas extremas, fome e desnutrição de populações indígenas, o Brasil se vê envolto em um debate acalorado sobre a redução das demarcações de terras indígenas. A polêmica gira em torno da tese do marco temporal, que determina que os indígenas só teriam direito às terras que ocupavam na data da promulgação da Constituição, em outubro de 1988.

A advogada indígena e assessora jurídica da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), Cristiane Baré, ressaltou que, apesar das dificuldades, a resistência dos povos indígenas continua firme, como sempre foi ao longo dos mais de 500 anos de história. Ela foi uma das juristas que fizeram a sustentação oral contra o marco temporal no Supremo Tribunal Federal, em 2021.

Apesar do Supremo Tribunal Federal ter declarado a tese inconstitucional, tanto a Câmara quanto o Senado aprovaram um projeto de lei para incluir o marco temporal em lei federal. Mesmo com o veto parcial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Congresso acabou derrubando os vetos.

Após a derrubada dos vetos, tanto organizações indígenas como a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) quanto o governo começaram a elaborar recursos para serem analisados pelo STF. Por outro lado, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) argumentou que sem o marco temporal há uma insegurança jurídica e a possibilidade de expropriar milhares de famílias que vivem no campo.

O professor adjunto de Direito Constitucional da Universidade do Estado do Rio de Janeiro Wallace Corbo destacou que agora o Brasil tem uma lei que contradiz a Constituição. Segundo ele, a lei nasce inconstitucional, mas a decisão final cabe ao STF.

O tribunal também definiu a indenização para proprietários que receberam títulos de terras que deveriam ser consideradas como áreas indígenas. A indenização, no entanto, não condiciona a saída dos posseiros de terras indígenas.

Atualmente, as 736 terras indígenas registradas representam 13% do território brasileiro, totalizando aproximadamente 117 milhões de hectares. O Brasil conta com quase 900 mil indígenas, distribuídos em 305 etnias, de acordo com o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

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