Profissionais e comunidade colaboram para proporcionar cuidado paliativo a doentes residentes em favelas.

Esse conceito parte do princípio de que a própria sociedade pode ser o motor de mudança e que a compaixão é um elemento essencial nesse processo. O projeto conta com doações e parcerias com a rede pública de saúde. Geralmente, os pacientes atendidos possuem doenças graves e incuráveis, como câncer avançado e Alzheimer. Devido à piora de sua condição clínica e à falta de mobilidade, já que vivem em áreas de difícil acesso, muitos deixam de frequentar os serviços de saúde e não recebem cuidados em casa.
Entre as histórias dos moradores está a de Elisângela, de 39 anos, que faleceu devido a complicações da Aids, Balão, de 49 anos, alcoólatra e com tuberculose resistente, e Toninha, de 62 anos, com câncer de pulmão avançado. Maria Edileusa Braga Freire, de 65 anos, moradora da Rocinha e conselheira de saúde da região, relata a dificuldade em obter atendimento médico emergencial para Toninha. O SAMU se recusou a subir o morro por motivo de segurança, e a polícia precisou ser chamada para levar a paciente para a UPA. No entanto, Toninha acabou falecendo às 16h. A história de Edileusa e suas colegas de chamar a atenção para os doentes graves acamados é uma verdadeira lição de solidariedade.
Em 2013, o enfermeiro Alexandre Silva, professor da Universidade Federal de São João Del Rei e pesquisador na área de cuidados paliativos, juntou-se ao grupo de voluntárias da Rocinha e começou a buscar parcerias com profissionais de saúde e outros voluntários. Cinco anos depois, a primeira comunidade compassiva do país foi criada e, desde então, o projeto tem sido replicado em outras regiões. Segundo Silva, a primeira medida é vincular o paciente elegível aos cuidados paliativos à unidade básica de saúde mais próxima de sua casa. Essa unidade recebe um resumo do plano de cuidado adotado pelos voluntários.
Atualmente, 30 pessoas no fim da vida estão sendo acompanhadas na Rocinha, e um total de 140 já receberam cuidados paliativos. O objetivo do projeto não é substituir o poder público, mas sim pressioná-lo a funcionar adequadamente. Aqueles que necessitam de cuidados paliativos não têm tempo para esperar, é necessário agir o mais rápido possível para minimizar o sofrimento do paciente e de sua família.
O projeto recebe contribuições financeiras e materiais de todo o país, como medicamentos, fraldas geriátricas, camas hospitalares, curativos, cestas básicas e leite em pó. Em 2021, o mesmo modelo de comunidade compassiva foi implantado na Cabana do Pai Tomás, em Belo Horizonte. Os moradores locais, como o entregador de gás Wellington e a agente de saúde da família Gleice Kele, foram treinados para identificar pessoas que necessitam de cuidados paliativos. Uma vez por mês, uma equipe de 25 profissionais de saúde voluntários atende esses pacientes em suas casas.
A escuta compassiva é um dos aspectos trabalhados com os profissionais voluntários. É importante aprender a ouvir os pacientes e identificar o que cada família é capaz de fazer. A assistência também é estendida aos cuidadores desses pacientes. Além disso, o grupo oferece suporte aos familiares enlutados, ajudando-os a lidar com a perda de seus entes queridos.
Embora o principal foco do projeto sejam os cuidados paliativos, há também pacientes que não estão no fim da vida, mas que enfrentam situações sociais que representam uma ameaça à sua saúde. Esse é o caso de um casal de idosos acumuladores que vive em um barraco sem água encanada em um terreno afundando. A equipe do projeto conseguiu que uma equipe de saúde da unidade básica de saúde realizasse um acompanhamento domiciliar.
As comunidades compassivas têm parcerias com universidades na área da saúde, como a UFMG em Belo Horizonte e a PUC de Goiás em Goiânia. A escolha dos locais atendidos pelo projeto é feita em conjunto com a rede de saúde, priorizando as unidades de saúde com maior demanda de cuidados paliativos. Com a ajuda dos moradores voluntários, as famílias que precisam de suporte são localizadas, suas demandas são identificadas e um plano de cuidados é desenvolvido para cada caso.
O projeto Comunidade Compassiva tem o objetivo de proporcionar cuidados paliativos a pacientes no fim da vida que vivem em condições precárias nas favelas. Através da solidariedade e compaixão, esses voluntários têm feito a diferença na vida de pessoas que seriam esquecidas pela sociedade. O trabalho realizado por eles é de extrema importância e merece todo o reconhecimento e apoio possível. Para saber mais sobre como se tornar voluntário desse projeto, acesse o site oficial ou siga o perfil @comunidade_compassiva no Instagram.