David Graeber: o antropólogo anarquista que questionava as dívidas

David Graeber, anarquista radical e professor de antropologia da London School of Economics, falecido em 2020, deixou um legado de questionamentos e reflexões. Em 2011, ficou conhecido por ser um dos idealizadores do Occupy Wall Street e inventor do slogan “Somos o 99%”. Nesse mesmo ano, publicou “Dívida: Os Primeiros 5 mil anos” —lançado no Brasil em 2016 pela Três Estrelas e rapidamente esgotado, sai agora em nova edição pela Zahar, com prefácio inédito de Thomas Piketty. Graeber era reconhecido por suas ideias provocativas, e seu livro foi um dos mais comentados nos círculos acadêmicos e políticos.

Em “Dívida”, Graeber demonstra como o capitalismo soube transformar uma relação econômica em uma relação moral ao longo dos séculos. A teoria econômica mais conservadora é questionada pelo autor, que argumenta que qualquer empréstimo traz consigo um risco, e a percepção desse risco determina as taxas de juros. Para Graeber, a ideia de que “é preciso pagar as próprias dívidas” é poderosa exatamente por ser uma afirmação moral, e não econômica.

Além de “Dívida”, Graeber também escreveu “O Despertar de Tudo: Uma Nova História da Humanidade”, em parceria com o arqueólogo David Wengrow. Neste livro, os autores propõem uma nova narrativa histórica, mais imaginativa e rigorosa em relação às evidências, que questiona as premissas de autores mais conservadores, como Yuval Noah Harari, Jared Diamond e Steven Pinker.

Graeber deixou um vazio no cenário intelectual com sua morte prematura. Sua ausência levanta questionamentos sobre como ele veria certos eventos, como o programa Desenrola, implementado pelo terceiro governo Lula, para desendividar a população. Seus escritos nos convidam a enxergar o mundo de maneira diferente e a considerar novas possibilidades de organização social.

Em “The Utopia of Rules”, ainda inédito no Brasil, ele escreveu: “a maior e mais oculta verdade do mundo é que ele é algo que nós criamos e que podemos facilmente recriar de outra maneira”. Essa afirmação reflete a essência do pensamento de Graeber, um verdadeiro provocador que desafiava as convenções e nos convidava a repensar a estrutura da sociedade e da economia.