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A indústria de alimentos se destaca na economia brasileira, batendo recordes de produção, exportação e investimentos e tornando o Brasil “supermercado do mundo”.




Artigo sobre a economia brasileira

A queda acentuada da participação da indústria de transformação na economia brasileira nos últimos anos

Por Vanessa Souza, correspondente da Folha Mercado

A economia brasileira tem passado por mudanças significativas nos últimos anos, e a queda acentuada da participação da indústria de transformação na economia é um dos destaques. No entanto, por trás desse cenário aparentemente desanimador, há segmentos que vêm batendo recordes de produção, exportação e investimentos.

Ao analisar o desempenho das principais commodities que o Brasil exporta, é possível observar um cenário de verticalização produtiva, valor agregado e aumento do volume produzido. Em 2022, o Brasil se consolidou como o maior exportador mundial de alimentos industrializados em volume, com 64,7 milhões de toneladas, superando os Estados Unidos.

Além disso, nos setores de petróleo e mineração, tem sido observado um crescente beneficiamento de produtos brutos, impulsionando cadeias industriais. A indústria de alimentos se destaca como o maior ramo da indústria de transformação, reunindo 38 mil empresas e contribuindo com 2 milhões de empregos formais e diretos. O setor responde por 12% de todas as pessoas que trabalham no país, e ainda gera mais 10 milhões de empregos na cadeia produtiva.

Nos últimos sete anos, as exportações de alimentos industrializados saltaram de US$ 35,2 bilhões para quase US$ 60 bilhões, representando um aumento de 72%. Enquanto a indústria de transformação encolheu 1,2% de janeiro a setembro deste ano, a indústria de alimentos cresceu 3,9%, e a indústria relacionada ao petróleo teve um aumento ainda maior, chegando a 4,8%.

Apesar dos desafios enfrentados pelo governo na busca por fórmulas de reindustrialização, a indústria alimentícia tem investido R$ 30 bilhões por ano e contribuído para mudar a percepção do Brasil como o “celeiro do mundo” para o “supermercado do mundo”. Além disso, o agronegócio, petróleo e mineração têm garantido saldos comerciais robustos à balança comercial, fortalecendo as reservas internacionais do país.

No entanto, a dependência excessiva do Brasil em produtos básicos gera questionamentos sobre a vulnerabilidade do país a flutuações acentuadas nesses mercados, seja por aumento da oferta global de petróleo, eventos climáticos com impacto em safras ou desaceleração maior da China, principal mercado do agro e minérios brasileiros.

De acordo com Manoel Pires, coordenador do Núcleo de Política Econômica e do Observatório de Política Fiscal do Ibre-FGV, o crescimento das commodities aumenta a poupança doméstica e pode gerar mais crescimento e formas de financiar investimentos e a dívida pública. No entanto, é necessário transformar essa riqueza natural temporária em valor agregado e capacidade de inovação para gerar crescimento de longo prazo.

Nesse contexto, o fortalecimento endógeno da indústria de alimentos, os investimentos em beneficiamento de petróleo e a siderurgia são boas notícias para o Brasil. Além disso, o Brasil tem se destacado na agenda internacional ao prover segurança alimentar, mas há dúvidas sobre a sustentabilidade dessa posição.

A ascensão e o beneficiamento das commodities têm provocado investimentos significativos na siderurgia, com o objetivo de melhorar o “mix” de produtos e agregar valor. No entanto, existe o risco de planos de expansão serem abortados devido à comercialização “predatória” de aço chinês no Brasil.

Apesar dos avanços observados em setores como indústria de alimentos, siderurgia e petróleo, o Brasil ainda enfrenta dificuldades em encontrar um caminho para se reindustrializar. As políticas antigas, o capital humano insuficiente e o custo elevado do dinheiro para investir são alguns dos desafios que o país precisa superar para alavancar a indústria nacional.


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